PIRANDELLO DOS SONHOS

PIRANDELLO DOS SONHOS.

Ó pequena Zil, lembro-me ainda do teu sorriso como se fosse um crepúsculo policromado de verão intenso.

Não sei por onde anda esse sorriso que um dia foi só meu.

Em que floresta de concreto frio, em que poço silvestre tu te escondes?

Eu vou olfatear pelos quatros ventos o teu vestígio que, por certo, levar-me-ão a ti através do inconfundível odor mágico do éter anestesiante.

Já estão cansados estes meus olhos velhos, contudo, eles ainda me trazem em brumas a formosura da tua lembrança e da tua ignota beleza de mulher.

Há muito me encontro no olvido, e esse estado de espírito me deixa triste por não te saber alhures.

Ainda te quero como fruta tropical sazonada, de sabor acre doce, e nesse querer voam em vão os meus pensamentos.

E nesses pensamentos, vêm às saudades que se evolam e se perdem, por isso, ainda estou triste.

Tristes são os meus olhos, estes mesmos olhos que já pousaram nos teus, na tua meiguice e no teu trejeito sedutor de ser.

Ah, minha linda moça, quantos sonhos foram vividos, quantas ilusões, (seriam ilusões?) que se transmudaram em rara e doce obstinação.

Onde estarão as tuas gordurinhas, aquelas curvinhas que eu adorava e que na hora santa do amor, eu me entretinha?

Foi numa tarde em que o tempo se embromava e, mesmo assim, lipoaspiraram-te.

E, por conseqüência, aspiraram também a minha alma, naturalmente boa, sugaram assim, o meu brinquedo de amante carinhoso.

Sei que marchaste para o desconhecido oeste, onde o sol se esconde, provocando-te um ocaso distante cheio de tristezas.

Saber-te nesse ermo se compadece o meu coração quando, vou às lágrimas, num choro de menino que ainda não se convenceu de que é um velho menino.

Não me turva o esquecimento, pois te amei na noite, nos sonhos, nos bares, e hoje me satisfaço somente com a tua teimosa lembrança, que persiste em me perseguir a toda hora, como se fosse a tua própria sombra.

No Pirandello, lembras?

Ordenavas com elegância ao garçom para ir buscar a minha carteira esquecida no andar térreo.

Foi uma noite indizível, e nós, no hall espiávamos as estrelas que eram infinitas e dependuradas na lousa negra do céu, cintilando intermitentes o código Morse que somente nós dois entendíamos: Era a despedida.

Eu me fui e tu te foste, restou entre nós um hiato sem sentido que apesar do tempo inóspito, ainda não se esvaiu.

Quero-te linda.

Lembro-me quão lindos eram os teus sorrisos soltos, os teus olhos oceânicos e os teus cabelos de furioso trigo em fogo.

Vou procurar-te não sei onde, meu instinto achar-te-á: num porto, numa cidade ou numa floresta.

Achar-te-ei como o caçador à sua caça.

Vou te trazer para mim como se traz uma criança ao colo, e assim, seremos um.

E o destino descreverá nossas vidas como duas linhas férreas, esparramando-se pelo chão em busca do infinito horizonte outrora perdido.

Há entre nós dois um laço invisível que, o tempo, senhor de todas as coisas uniu para sempre.

Se aqui não for dessa vez, encontrar-te-ei na eternidade, essa desconhecida e suposta realidade imponderável onde os amantes se fazem puro amor.

Tu és a patinha que quero a nadar no meu tranqüilo lago e, nessa quietude, nadarás em mim pleno de serenidade e paixão.

Não datarei este poema-prosa, pois ele é um fruto que se derramou da minha alma, e por ser um poema, ele por si só já é eterno.

Achar-te-ei!

Amar-te-ei!

E jamais iremos nos separar.

Eráclito Alírio.

Eráclito Alírio da silveira
Enviado por Eráclito Alírio da silveira em 24/11/2006
Código do texto: T299871