PARA UMA MULHER POSSIVELMENTE AMADA
PARA UMA MULHER POSSIVELMENTE AMADA
Os entretons violetados bailando e iluminando as tuas faces desertoras era, de repente, a presença explícita de desejos escondidos, aflorando de maneira graciosa, numa alvorada voraz vermelha cheia de rubras ondas de paixão.
Imantados estavam os teus olhos pretos, profundos e inssossegáveis, a procurarem os meus que de cândidos e tristes se atracavam mansamente no mar lânguido dos teus olhares inquietos.
Eu os buscava avidamente como coisas minhas, antegozando a minha necessidade última e subjetiva, no entanto, rara mulher, tu não entendias a minha desesperada busca querias tão somente estar ao meu lado, ignorando os meus desejos ocultos e os meus anseios desesperados que estavam nos meus olhares pesados e perdidos.
Ah, mulher minha, paixão derradeira, se soubesses como o meu olhar te percorria, por certo, entenderias a estática insistência, quase uma prece, de estar próximo a ti absorvido pelo fogo queimado da tua beleza, à espera de uma migalha do teu carinho para aplacar a minha sequiosa sede de ti.
Agora, muito distante, apenas experimento o amargor e a ressonância doentia desse incrível letargo, chegando-me de longe e do infinito também, o rumor leve de estrelas cadentes que persigo até se perderem nas cordilheiras intangíveis da noite e, assim, com elas se vão os meus sonhos.
Mulher ficou em mim vestígio indelével da tua pálida luminescência estelar, e em tua órbita incandescente abrasaste em mim o furor de bólido celeste, sobrando-me apenas a tua incoercível força gravitacional, abismando-me em conflitos e saudades que tangenciam uma dor, assim como a dor fugaz da partida.
Nesta planície interplanetária em que me encontro, tu és a estrela mais bela que as constelações adjacentes e pressurosas não contêm, e tu repetes para mim o equilíbrio harmônico do universo, tu és a minha imensa campina sideral.
Foi rubro o meu amor por ti. Porque tu detinhas, ó mulher, os brasões acesos do teu lindo sorriso que se abriam como romãs e enfureceram os meus sonhos de poeta sonhador. Agora plangendo a desdita de não mais te encontrar numa trajetória possível, pois a tua órbita abraça a imensidão cósmica, fico sozinho a lembrar-te. E, entre as poucas estrelas que ao longe diviso, cintilando códigos incompreensíveis, desmoronam-se e fenecem os meus sonhos.
Já não posso mais te mensurar com os meus olhares, estes mesmos olhares que em ti se fixaram por alguns lúdicos instantes, já me sinto envelhecido com estes olhos tristes, de certa forma, agora, eles somente se envolvem com a tua lembrança e as lágrimas ocasionais.
Teu encanto de mulher menina tingiu outrora a minha adolescência imatura e, assim, fiquei de alma estigmatizada, para fazer-me sentir e saber ser eu a tua infinita propriedade. Um verdadeiro sepulcro silencioso de ventos, eclipses, beijos e afagos, uma bem lembrada cumplicidade que se fará eterna.
Quantos sonhos, quantos carinhos vividos e praticados em teus seios inconhos, como se fossem dois jambos silvestres, verdadeiros píncaros da tua íntima e adorada soberania.
Olvidar-te é um pecado que jamais cometerei, apesar da minha vida torva e inútil, mas para aonde eu for levarei inseparável a tua fragrância de mulher. Um aroma indefinível que de forma equivocada não incensaram os meus sonhos.
Levar-te-ei pela minha vida afora. E cismando entre um verso e outro com a tua formosura sideral, que, para todo o sempre, enfeitarão os meus poemas solitários verdadeiros apriscos de sentimentos doridos.
Assim, minha indizível companheira, as saudades transitarão entre nós com soluços e desejos de benquerença. Os últimos anseios deste desesperado que te amou e, de tanto amar, te perdeu, portanto.
Eráclito Alírio.