ELE NÃO CONSEGUE MAIS ME AMAR

Ele não consegue mais me amar. Ele tenta, eu sinto suas tentativas no ar que ainda me é dado sorver.

Ele não o consegue, seu coração está ermo, ermo como o meu coração está, mas não ermo dele, ermo de tudo o mais, menos dele, que ermo dele jamais meu coração conseguirá estar.

Meu coração segue ermo, sim; ermo do seu perdão, ermo pelo vazio que eu instaurei em sua alma, em sua vida. Ele bem o quer, mas, não me consegue perdoar.

Eu vivo do nosso mundo que houve e do nosso mundo que não houve, mundos que não existem mais dentro dele que se diz morto em razão da morte dos nossos mundos que nele não existem mais.

Eu vivo para tentar transformar em palavras os mundos nossos que se perderam, para imortalizá-los em mim e na imaginação de alguém que me leia e que precise, por espelhamento, que precise, para si mesmo, deste testemunho de imortalidade, que eu vivo para escrever; a imortalidade que nele não existe mais; o sonho de imortalidade que permanece em mim.

Eu vivo, ainda, para evocar as imagens do casal feito-de- puro-amor que nos sonhamos, casal que nós dois e os outros seres e aquele outro homem e as outras mulheres e o mundo e o país e os tempos e as vidas nunca nos permitiram, nunca nos deram, sempre nos tiraram o direito de existir e de ser.

Na manhã de 27 de maio de 2011.