Cicatrizes e arranhões
Ouvir dizer - e não faz muito tempo - que tirara um coração sedento em sangue, em que se chorava muito em um leilão de amor. Ninguém sabe quem, o autor de tremenda ousadia, que ramificara os pedaços em extraordinária divisão. Não igualitária, no desprezo de muitos que recebiam mais daquela dor. Era um coração cicatrizado, que já foi partido uma vez, porque das outras foram apenas arranhões onde se deixavam muitas marcas em ambas as metades - em perfeita simetria.
E as pessoas o repudiavam não querendo por ele nem sequer se doar uma gota de amor, era efeito do egoísmo e disso quase todo mundo já sabia. Eram contra a aproximação de uma coisa tão suja, onde residia erros e uma vida completamente mal vivida.
Desse modo, não se esperava muito do pobre coração, que sangrava cada vez mais implorando por algo que ali não se enxergava ou não queria ver. E quanto mais o tempo passava, mais escorria por suas curvas um sofrimento que transgredia tristeza por todo o lugar. Mesmo assim, ninguém se achava o bastante a dedicar-se carinho e atenção ao que precisava tanto naquele momento. E não sentiam, nem ouviam, só se perguntam e não entendem, não sabem, não querem saber...
Evelyn Dias
"E se tudo isso que você acha nojento for exatamente o que chamam de amor?" - Caio Fernando de Abreu -
http://apoetaesuasletras.blogspot.com/