SOLVENTE (Publicado em http://letrasdobviw.blogspot.com/ em 24/05/2011)
Eu vi o suco de uma tulipa amarela sendo utilizado para formar um pigmento, que bordou a palavra “amor” em pergaminho sutil. O tempo tictaqueou e o papel resistiu amarelado. O debruçar das letras era hercúleo.
Eu vi as estações passando e nada mudou. As intempéries não conseguiram maltratar o que foi plantado.
Eu vi uma lágrima desfalecer no pergaminho sobre o nobre sentimento e embrenhou-se com ele pelas fibras da celulose. Não via mais a palavra. Só o corpo se enrugar de dor.
Agora resta esperar o tempo secar a mancha e ver se a pele deformada comporta nova palavra. Não vejo outra saída.
Quem sabe neste papel não vejo o desenho de uma tulipa amarela? Quem sabe uma letra vã? Ou uma ideia sã?
Olho o horizonte. Vejo ou não vejo a primavera chegando? Que ela venha depressa.