NOSSO CASAMENTO

Os padres dizem, em certo trecho das cerimônias de casamento: “Sejam uma só carne e uma só vida...”

Não somos casados e, no sentido bíblico, não temos o direito de nos conhecer na carne mais do que na única vez em que nos conhecemos, há mais de duas décadas, nesta vida.

Vivemos à distância física um do outro, todo o tempo, à raríssima exceção dos dias em que partilhamos, com o mundo, nossa presença. Apesar disso, o que dói em tua carne dói na minha carne como dor minha e, do mesmo modo, as dores da tua alma, na minha alma; pela tua reação, certa vez, ao saberes do tamanho do tumor que, em cirurgia, haviam retirado do meu corpo sei que o mesmo se passa contigo, assim como sei que sofres pelas dores insolúveis na minha alma e na minha vida. A vida que vive em nós continua a se dar por esse processo estranho, de simbiose físico-espiritual.

Por isso tudo, por tudo isso, creio, sim, que somos casados; casados, para além do que nos coube nesta vida; casados, em casamento sagrado e consagrado sabe-se lá em que tempo do mundo, sabe-se lá em que vida das nossas múltiplas vidas.

Na manhã de 25 de maio de 2011.