Carta VIII
Volta e meia e volta inteira eu tenho solidões.
Solidão de até ser feliz eu tenho, sabia? Pois tenho.
Solidão de beirar o nada, foi então que me perguntei em que torno de órbita estava. Solidão de beirar o escuro vão-vácuo de se sentir parte do escuro, uma solidão grande que é um descampado escuro de nada. Minha cara como um terreno vadio plantado de nada, plantado de desertos.
Solidão de ser silêncio e de ser feliz no ermo, uma nudez. Depois solidão pro meio da tarde anoitecendo, foi uma solidão de querência pelo outro. Mas não podia ser demorado o outro na presença da minha solidão. Pois coisa que não dou é minha solidão a ninguém, ah... não dou não que é coisa funda de se perder e solidão é pra se tomar chá das cinco que é suave, tranqüilo e divertido. Depois a solidão passa. Solidão que é como uma fome desarvorada, a gente esquenta água e põe o chá, conversa enquanto a infusão funde tristezas e fúnebres sertões, solidões amargas, sórdidos sertões, feridinhas de doer graves, tomemos pois o chá que é só sorrisos, sol n'água e doce claridade.