A PASSAGEM DO POETA
As inspirações vêm como rajadas de chuvas e eu continuo a tomar a vodka barata com gômos de laranja no gêlo. De repente o silêncio como aquele cavalo de madeira na estante, quebra-se e faz ecoar o seu relinchar vadio. Olho para aquele quadro ensebado da última ceia, imaginando se aqueles personagens teriam tomado um porre de vinho. Risos com gosto de almofadas saem dos meus lábios anestesiados. Ao fundo no rádio, o blues tem a ver com a poesia, assim como o misterioso segredo do suicídio do poeta.
Não sei se o vício comanda a mente, ou na verdade é a razão cega que influi-nos diferentes desejos. Então eu entro como uma caneta a ejacular pensamentos, não me importando com resultados.
Pior seria ter frases pensadas já escritas por outrem. Ninguém conhece o nosso grau de loucuras, se a expressão do rosto é sempre mutante. A descarga do banheiro leva o meu vômito com espumas, gômos e babas sem piedade. Meus olhos lacrimejantes, ignoram a luz da lâmpada que me analisa. A sala e o sofá sempre foram ótimos lugares, durmo despreocupado quando amanhece o dia, com a certeza de que vou me lêr logo mais...