A palavra derradeira
serviu como uma luva
doeu como um açoite no meio da noite
como uma punhalada na madrugada
E feriu de morte todo o meu silêncio
mortalmente como veneno de serpente
e pariu entre dores o primeiro grito
de que nasceram os gritos posteriores
dos interiores mais inferiores da alma
A palavra derradeira me deu um nome
e me deu a ânsia de nomear as dores
a vida, a sede, a morte, a fome, a sorte
chamou de longe a solidão e a tristeza
e encheu de incerteza os meus saberes
me deu o ofício do verso angustiante
e o malefício desse meu olhar distante
A palavra derradeira veio de longe
lá de onde nasce tudo que é inexistente
do vazio onde morrem todas as coisas
para me lançar neste deserto imenso
e me perder nos intrincados labirintos
me afundar nos abismos mais profundos
e me cumular com a bênção da escuridão
A palavra derradeira se fez eterna imensidão
sempre foi a mais verdadeira e matou a primeira
a palavra derradeira foi um adeus...
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 23/05/2011
Reeditado em 19/05/2021
Código do texto: T2988956
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