Sem título, sem ar
Ah, minha musa. Já te disse, teu lugar não é um, é o todo, o mundo, o universo, o maior lugar possível para abrigar tua amplitude. E se tento te definir, é só para mostar aos pobres homens um pequeno pedaço da sua grandiosidade. Será por isso que não podes ser minha musa? Sim, sou muito pequeno para algo tão superior. Mas, não...não é por isso. Sim, a propriedade não existe. Logo, não és minha musa. És musa apenas. És musa, és poesia personificada, é inspiração, e de inspiração preciso para respirar o ar que me sustenta. É por isso que preciso de uma musa. Uma só, e mais nenhuma seria necessária, pois uma musa seria um mundo, e o mundo seria a musa. Será que isso tudo é apenas devaneio de minha mente insana que teima em brincar com palavras, ou do tal "coração" que não é o de carne, que teima em brincar com sentimentos? Ou será da minha quimera, que teima em brincar de juntar e misturar ambos? Palavras tem vida e carregam o sentimento de quem as escreve? Se sim, quais palavras escreveste no vento para mim, minha deidade? Quais letras tu deixastes juntas na superfície das águas, nas pontas das rochas, no calor do magma, no brilho da luz? No brilho da luz há tu, e para ver a luz, fiquei cego e abri outros olhos. Fiquei surdo e abrir novos ouvidos. Descasquei-me e ressurgi com nova pele. Cheirei a tua essência, e entendi que estou vivo. Rogo para que me deixes continuar essa inspiração vital, minha deusa, minha musa. Rogo e espero, pois é o sábio paciente que com o tempo alcança a sabedoria. Que eu aprenda, e espere a musa para alcançar uma inspiração eterna, que mesmo sem morte ou na ausência sincera da musa me preencha. Ah, musa...preciso respirar! Dá-me novo ar... é só o que te peço.