[Retrato do Abandono]

[Uma Estação da vida]

A velha drogaria cerrou as portas de vez.

Na certa, o ambiente do cômodo, as paredes,

já não mais trescalam aquele odor característico

que a gente percebe tão bem em toda farmácia.

No larguinho em frente, cresce uma árvore,

um "chorão" solitário — não tão solitário

quanto eu, que bem tarde da noite,

passo devagar pelo largo da farmácia,

sem rumo, sem motivo algum

[ou há um motivo e eu não sei?].

Passo... sigo vagamundeando lembranças

de outras quadras de meu tempo,

os tempos não melhores que este,

que cada tempo tem seu sumo,

e o que fazer, se mal o aproveito?

Cada tempo que vivi, eu sei,

foi roubado à morte, é claro.

02h45...Contorno o largo da farmácia

pela esquerda; e a esta hora, encostada

no frágil tronco do "chorão", lá está

a putinha magrela que ainda tenta...

A vida é traição, e não perdoa:

tira retratos do abandono,

faz comércio com a dor.

[Penas do Desterro, 21 de maio de 2011]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 21/05/2011
Reeditado em 22/05/2011
Código do texto: T2984173
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.