Quando as tainhas chegarem...

Quando as tainhas chegarem...

...vou enfeitar a minha casa, vou cuidar bem do jardim, vou afofar as almofadas do sofá da sala e dispor as cadeiras em roda para os meus amigos sentarem e preguiçosamente desfiarem uma prosa. Isto, um pouquinho antes das tainhas assando nas brasas desprenderem seu cheirinho acarinhado com a salsinha picada. Eles vão me contar toda a faina da pesca. Como o Antônio Vigia viu o cardume chegar... aquela mancha escura arredondada, enorme, denunciando as toneladas de tainhas cheias de ovas... A faceirice de alguns e a consciência ecológica de outros cochichando para eles que uma rede talvez chegasse... A comunidade toda na beira da praia e os homens do arrastão seguros nas cordas puxando, puxando... as tainhas pulando e pulando já sentindo a falta da água. A areia da beirada do mar coberta de peixes e os donos do arrastão gritando comandos: ‘Aqui... Puxa... Agora... Levanta a corda...’

Os compadres e as comadres já vão levando para casa as tainhas que ganharam. Na Rua das Manjubas, cinco casas foram convidadas para comer tainha na brasa.

‘...este lanço foi maior do que o do ano passado e elas são maiores também!’ Disse o Onésio.

O momento é de felicidade completa. A gente precisa tanto se sentir feliz. A caipirinha vai fazendo a roda e liberando a alegria dos donos e dos convidados. Um privilégio para quem valoriza uma prosa descontraída e soberana numa roda de amigos e o brilho vivaz nos olhos de todos.

...e as tainhas com farofa de ovas, depois.

Elsa B. Pithan

(20/05/2011)