ALIENAÇÃO 2001

ALIENAÇÃO 2001 (MCA)

Era o teu sorriso um cálice floral.

O céu sempre te vestia de um azul profundo.

Havia um doce néctar, no qual, eu me embriagava em teus lábios novos e brandos de mel.

Só e perdidos entre as ruínas do amor e do Forte, tínhamos a noite alcoviteira, nubente, boa consorte e os nossos corpos abrasados prontos para amar.

Foram doces e ternos os pecados cometidos, comedidos, desejados e consumidos a dois, na penumbra de uma madrugada de verão que se foi esconder na intimidade de um amor indevido.

Possuíamos tudo. Até o suficiente para dar certo, existiram felizes momentos, dos quais, ainda hoje me lembro esquecê-los de uma só vez não seria o correto.

Éramos dois, amando-nos como se fossemos um, mas fomos vorazmente abatidos por uma tempestade cruel e adversa, perdemos aquele equilíbrio que se fazia sustentável.

Trocamos o equilíbrio por vilanias cheias de duras maldades infladas, talvez, para não ser feliz contigo.

Daquele amor que foi tão louco e bom, frutificou dois indefesos e lindos rebentos.

Por eles, filhos do amor, nós não vivemos sequer um pouco, os ignoramos, por certo, amargaram em sofrimentos.

Hoje, muito longe, neste lugar sozinho e distante, agora sem a minha incômoda e hostil presença, penso como afirmava convicto antes, se soubéssemos, teríamos uma vida intensa.

E assim, hoje tens a vida que tanto querias, só, livre, auto-determinada e independente, sem o cansado ônus da minha companhia.

Desta forma, fazem atualmente as pobres mulheres, entretanto, também sou livre de ti, mergulhado numa solidão mais que vazia.

Hoje, por muito ter amado com ilusão alguém um dia, noutra mulher pouco e difícil se fia.

Amei, acho que muito amei.

Tu foste sem sombras dúvidas uma ignota e difícil mulher, em que, no teu amor outrora acreditei.

Agora, outra ilusão nem pensar ao menos sequer.

Contrário a minha vontade não te olvidarei de vez, raramente voltarei como humano a sonhar com aquele teu estranho e inconfundível olhar que, para martírio meu ainda não se desfez.

Esquecer-me-ás.

E eu também esquecerei, até os teus arrulhos e os falsos afagos.

Comigo na sombra sempre em segredo levarei, a tua dissipada lembrança.

Assim estamos pagos.

Eráclito Alírio

Eráclito Alírio da silveira
Enviado por Eráclito Alírio da silveira em 22/11/2006
Código do texto: T298095