MONÓLOGO DA TUBERCULOSE VAGINAL
Eu pensei que tivesse um tesouro, mas vi que o tesouro era o simples orvalho que evaporava com o luar. Eu sei que já havia tempos que estava angustiada com sua presença ausente, com sua indiferença aparente, seu jeito distante de ouvir o violão silencioso do nosso filme falado colorido em preto e branco. Naquela noite tudo já estava consumado, faltava apenas o ultimo ato, não ensaiado, há muito pensado, para eu saber que não precisava de você ao meu lado, que não precisava ficar olhando seu corpo adormecido ignorando meus anseios, meu desejo de te ter, de fazer com amor durante as madrugadas frias ou quentes sobre nossa cama, sempre deserta, povoada apenas pela minha azia, tendo somente o cobertor barato comprado na promoção de final da feira livre, servindo de metáfora para aquecer-me e extasiar-me do prazer isolado do não ter. Naquela noite passeei pelo quarto, fui até a janela, abri a cortina e deixei a noite clarear minha camisola azul piscina opaca, depois encostei-me na parede, junto a porta, deslizei-me silenciosamente até sentar-me no chão, estiquei as pernas, deixei as alças camisola caírem e meus seios ficaram desnudos, comecei apalpar-me e senti o amor que tenho por mim, com meu corpo banhado pela tênue luz da lua que entrava pela janela com as cortina aberta.