Mel e Amargores
A noite estava friorenta e o vento gélido perfurava nossa pele alva. A diversão era a música lenta de fundo que inundava o nosso mundo, enquanto olhávamos a estrela d’alva. Beijos, toques, sedução; a paixão aflorando, os problemas suavizando no átimo em que a compostura pendia para o lado da ventura de um amor meigo, doce e brando.
Na suavidade deste “brando” apareciam faíscas, mesclas de mágoas pregressas e rancores perenes, guardados nos âmagos solenes, onde deixaram as iscas de palavras transbordantes como águas percorrendo as promessas retóricas dos amantes insensatos, apaixonados pelo mel de antes... Antes fossem meras palavras!... Típicos verbos jogados com o propósito da minúcia, onde a psique pega com astúcia e vai levando, levando e levando até não sei mais quando por paixão ou por luxúria e só o coração sente que tudo, no fundo, está se abismando.
Eu sempre penso nos teus olhos... Uns olhinhos de pidão; uns olhinhos amargurados que me pedem, por favor, meu poeta, misericórdia! Ponho minhas barbas de molho e aqui fico aqui aflito, pensando na discórdia filosófica de nosso coração; porque tento apalpar o teu num movimento que lembre carinho... Só para vê-la indo, sorrindo de prazer no viver e de emoção.
Eu queria – juro! – mesmo que a incredulidade tome teu encéfalo e subjugue teu coração à razão faceira, amiga da sanidade verdadeira, dar-te o meu amor. Um amor sublime e não surreal; um amor que acalanta, acalenta e que traz lenitivo geral para esses olhinhos que me fizeram ser o homem mais infeliz do mundo, quando te vi na aflição silente, aquela dor que só a gente mesmo que sente sabe a comoção que vem do profundo, num lirismo descomunal.
Com a palma em teu rosto angelical, feminino, sedutor, mas muito triste revivo a dor de teus olhos. E mesmo que o ceticismo alegue incompreensão ao meu sentimento existo e vivo do amor meu momento, distante, porem muito real junto ao teu coração, tendo a paixão e a lembrança por rebento, minha amante.