A TERRA É DE QUEM A TRABALHA
Os camponeses sem terra, como escravos lavram e labutam as terras de outrem como o sangue das enxadas.
Pelos olhos da madrugada, lá vão como animais,
dando ou vendendo o seu suor, nos braços da vida com as suas enxadas pelo ombro. ( O seu suor a escorregar pela testa).
Era Inverno. Caim umas gotas de cristal. Mas chovia a cântaros. O seu sofrimento era como um dia desmaiado. O Jerónimo sentia
dores nas pernas e ao Fernando dói-lhe o corpo todo.
O sol ainda estava a despontar e eles já estavam a trabalhar.
Levantavam-se muito cedo ao raiar da madrugada. Frio como neve. Puxavam pela enxada para remover a terra, lavrando, semeavam, lavravam, redravam e assim passavam o dia como
prisioneiros condenados.
LUIS COSTA
LAMEGO, 4 DE NOVEMBRO DE 1983
AMADORA, 27/10/2o04