DEUSA VIKING.

DEUSA VIKING, AMADA AMANTE.

Oh, amada!

Estou atado a ti, assim como a raiz da árvore está atada ao solo.

Mesmo que os ventos tempestuosos tentem aluir as minhas bases, jamais desprenderão as raízes emocionais que se fixaram em ti.

Essa fixação de encanto é o meio pelo qual extraio os meus alimentos existenciais, vivenciando uma saudade sem fim.

Doce líquido aquoso e inominável que corre pelas minhas artérias, distribuindo os nutrientes pelo meu corpo e pela minha alma, nutrientes esses que, me dá vida com saudosas lembranças de ti.

Porque, ó Deusa Viking, somente tive eu que te amar, e tu eras apenas uma presa dessa paixão?

Agora, nesse devaneio eu lembro da tua boca, duas simpétalas que desabrochavam, naturalmente em sorrisos sedutores, espontâneos e inefáveis.

Aí de mim, se um dia tiver que deixar o tempo apagá-los, tudo se transformará num crepúsculo fugidio e, essa escuridão, por certo, me enredará com sonhos enganadores.

Tu és o meu solo, um composto de ricos minerais.

Oh! Por que tive de me implantar em ti?

Eu sei, tu também sabes que me sustentas, mas como foste volúvel me desequilibraste com os teus suspiros duvidosos.

Doce solo, ubérrima terra, em ti eu plantei as minhas raízes emocionais, agora, foges de mim como os polens que são espargidos com os ventos.

Com a segurança que me sustinhas, pacifiquei-te nas mais perigosas tempestades.

Dobrava-me com os ventos, mas volvendo os meus olhares para ti, fortificavam-se os músculos como um obelisco pétreo.

Hoje, de certa forma, sou liberto de ti, pois as algemas que nos prendiam quebraram-se com a corrosão do tempo.

Nesta noite, premido pela escuridão e pelo silêncio, ouço ao longe uma canção que é modulada pelos ventos, concentro-me nela e, assim, comprazo-me na paz que me traz.

Mesmo porque, ela me reporta a ti, quando cantavas embevecida pela felicidade sentida, ocasião em que, me oferecias beijos prolongados e agradecidos.

Tudo em ti era um encanto, os teus olhos azuis se espraiavam em luzes, os teus cabelos de furioso mel eram as minhas delícias para o carinho inevitável, os teus lábios sedosos como flor, eram os caminhos incoercíveis para a sedução final.

Ah, os teus seios, um porto quente e seguro, aonde eu atracava todos os meus sonhos.

E, nesses momentos lúbricos, juravas-me eterno amor, infelizmente, só tínhamos por testemunhas os nossos corpos abrasados pelos delírios da paixão.

Pensávamos, naqueles momentos, que nada podia nos separar, até a morte seria uma possibilidade muito afastada no tempo e no espaço.

Era inacreditável e remota a sua ocorrência.

Como pudemos nos enganar tão facilmente?

Hoje, eu entendo, pois a paixão que nos dominava era como um anestésico e, como tal, um dia, cessaria o seu efeito, suprimindo os anseios do amor desmedido.

Não devemos esquecer os momentos vividos, eles foram bons, divinos e extasiantes, eu permaneci com os seus efeitos, agora, sinto a dormência anestesiante em forma de saudades.

E assim, vivo com esse sentimento suave que paira sobre mim, desejando que o tempo me trouxesse de volta àquelas vivências.

Lembranças, lembranças, eis o que me restou desse relacionamento idílico e, mergulhado nelas, sou torturado pela suave dor não localizada da saudade.

Essa paixão a que nos submetemos foi tão forte que, deixaram em mim seqüelas que o tempo não as apaga.

Não sei se esse estigma é uma benesse ou um fardo que devo carregar por toda a vida; se a emoção vivida foi recíproca devo acreditar que sofres desses mesmos sintomas.

Será que essa forma de sentir é um castigo ou apenas um exercício saudoso, ao levantarmos as lembranças do fundo das nossas inapagáveis memórias?

Por certo, castigo não é, pois não burlamos os nossos sentimentos, apenas foram temporários, contudo, também foram eternos, pois os vivemos com todas as expressões legitimas de nossas almas.

Sim, foi eterno, pois ainda o sinto com a mesma força, como se estivesse vivendo à época do acontecendo.

Para mim, ele foi realmente eterno, trago-o em meu inconsciente como figura rupestre, um sinal de benquerença e de amor que por nós transitou com sonhos leves, e que será levado para toda uma eternidade.

Ó Deusa Viking!

Expressão máxima da realeza nórdica, o teu encanto, a tua postura de majestade, o teu sorriso delicioso e bárbaro, permanecem em minhas lembranças com a mesma naturalidade que espargias no passado.

Quantas noites foram vivenciadas no embate desse amor louco e incompreendido, quando não querias te submeter a esse sentimento, e eu acabei por me prostrar por inteiro, pois o que sentia era mais forte que o meu próprio espírito.

Eu sabia também que sentias o rumor em teu coração, mas resistias, porque, de certa forma, ele te escravizava.

Na verdade, ele pretendia te libertar, mas tu tergiversavas sobre o amor e a liberdade, ficando claro e definido que, tu não desejavas te algemar submissa a esse sentimento blandicioso.

Hoje, apenas me envolvo com a tua lembrança, às vezes distante como um sonho do passado, entretanto, ainda o vivo porque a tua figura assenhoreou-se do meu inconsciente que, de vez em quando, o liberto para viver, à noite, oníricos momentos.

Como tu deves saber, a minha vida foi uma história, uma rica fantasia, sim, contudo, amo-a dessa forma.

Tu sempre fizeste parte da minha rica fantasia, não como uma lenda, mas sim, como um fato real que foi vivido com toda a expansividade da alma.

Ali, naquela árvore frondosa canta um pássaro solitário, na melodia do seu chilrear ele pretende me informar de forma plangente que, não foi em vão o sonho que comungamos no passado.

Amor, amor, porque temos de atualmente viver apenas de lembranças?

Se no presente não nos é possível e, se o passado fosse uma via transitável, eu, por certo, lá estaria te esperando no mesmo lugar, na mesma mesa, com o mesmo vinho “cordilheira”, para saborearmos com a essência da hortelã.

Eráclito Alírio.

Eráclito Alírio da silveira
Enviado por Eráclito Alírio da silveira em 21/11/2006
Código do texto: T297173