Lamento da quimera escrava
A Arte da viajosidade escreve devaneios que vem com o vento.
Lamento da quimera escrava
Concentração...se concentrar. Queria, mas não dá. Quero, não posso, tento e não consigo. Minha única concentração plena, total, inteira é na sua imagem, na espera pela sua volta, no aguçamento dos sentidos que esperam detectar o seu retorno. Por que me cativaste, criatura? Por que me laçaste com esse elo inquebrável de sentimentos que chegam em ondas e abalam meu pobre mundo, meu pobre espírito já perturbado pelo tudo? Minha benção e maldição, minha espera solitária por companhia, a espera da minha musa, rainha e dona de metade da minha alma. Que me inspira mesmo que esteja inspirando e suspirando(espero) longe, longe... E aqui, o que você arrancou de dentro do meu peito? Que pedaço importante foi esse que tu levastes, e compromete o funcionamento do meu todo por inteiro, e o deixa despedaçado ao chão, ao léu, escutando o vento e esperando que ele traga sua voz, seu suspiro, algo, qualquer mínima coisa que seja? Ah, o vento! Ah, minha musa, o vento é mau, trevoso, cruel, só traz lembranças. Só traz saudade. A saudade é beleza que me faz sofrer. E tua silhueta, e teu interior, é beleza maior que faz sofrer mais que a essência do sofrimento. E tua ausência sincera é beleza que contrasta com a falta de mim. Falta um pedaço de mim aqui, ele está contigo. Eu fiquei com algum pedaço de você, não fiquei? Esse pedaço quer se unir ao todo? Espero que o elo não se rompa e nosso pedaços do "nós" se juntem "para sempre", nem que o "sempre" seja um mísero instante. Esperando eternamente por um instante, estou a esperar. Sim, se concentrar em...esperar e se manter respirando pode ser uma lição. Uma torturante lição do regente absoluto de tudo, o relativo chamado tempo. Entregue aos cuidados das areias do tempo, suspiro e espero. Espero a volta de um pedaço de mim para que eu veja novamente o brilho e a luz de uma alma, um buraco para minha liberdade, uma quebra para estas barreiras é o que peço, imploro. Rogo e espero por um pedaço de mim guardado em ti. O que te dei é teu, só tu e o regente sabem o que acontecerá com meus pedaços. Escorre tempo, o tempo corre sem pressa, e minha ansiedade senta, suspira, espera, só pode respirar. Só há para minha escrava de ti quimera o respiro, o suspiro, o ar que paree cinza. Ainda estou respirando, e a culpa talvez seja sua, minha senhora.
Dija Darkdija