A parede negra completamente coberta de fotografias. Fotografias têm o dom de paralizar o momento, parar o tempo na hora certa, de eternizar o instante, de dar vida ao inanimado. Em cada uma, uma história. Essa é aquela gigante gameleira da praia Formosa. Continua no meio da rua, indiferente aos carros que desviam diante de sua majestade. Minha arvore eternizada pela minha câmera. Logo em seguida, faces do secular seminário São Francisco. Opulência e simplicidade se mesclando originando uma construção de extrema beleza. E, lá vem a foto daquele monte de areia da praia que visto de bem pertinho lembra uma paisagem lunar. Não poderia faltar uma acácia amarela em flor brilhando ao sol. Suas flores douradas pelos raios fazem com que pareça uma miragem estancada no momento exato do cair das flores. Mais abaixo, uma barriguda faz inveja às cerejeiras com suas flores alvas, alvas. E lá está a silhueta da gata de Juliana de nome flor. Nessa foto, um jasmim vapor evapora no branco do nada. O cacho de flor de colônia invade o azul celeste e quase sinto seu perfume. O hibisco vermelho,vermelho, sangra na escuridão do negro que lhe serviu de fundo, aprisionado no instante exato. Aqui, a roda de bonecas de pano, roda, roda numa brincadeira sem fim, nem começo. Alí o rio Sanhauá lambendo a praia do Jacaré, com seus barcos estáticos eternizados pela câmera. E as praias invadem minha parede. Lá estão elas, em diferentes ângulos, em diferentes horas, de nomes diferentes, mas pouco importa, todas maravilhosas em suas diferenças. Pode ser o solitário coqueirinho da praia de Tambaba, ou a falésia colorida da praia do sol, todas estão alí a meu alcance visual, num convite a que eu volte sempre.
Um dia, como por encanto, ou para me encantar, pousa uma foto de um menino cacheado de um riso solto, depois lá vêm os dois cisnes, um branco, um negro, lindos, lindos, e aquela menina de chapéu de palha encantada com uma linda flor, quase tão linda como ela. E até duas familhinhas se fazem presente numa pose tradicional, mas nem por isso menos bela. Alí está minha menina primogênita que cresceu e pariu meus cisnes, de joelhos ante o mar, de braços abertos, total e completamente entregue numa liberdade sem par. E o outro de olhar sisudo, de expressão trancada, procura esconder seu eu, um homem criança que cresceu por fora, mas conservou seu menino interior. De costas, minha menina-mulher invade um túnel, nas maõs um chapéu, no todo, um encantamento.
São meus pedaços invadindo minha parede, me invadindo, me preenchendo, são minhas nesgas plantadas na minha jornada que vêm se embaralhar na minha parede, numa mistura de vida, beleza e ternura, tudo jogado numa simples parede negra.