ÁGUAS E BARCOS
O poço, pela falta de movimento, não produz nada perceptível. O mergulho nele permite que se possa lavar o corpo em boa água. O espiritual será lavado noutra cisterna e em outra água, que irá produzir efeitos muito diferenciados. O mar interior é bravio, e, por tal, não possui cais seguro e aprazível. O calado desse mar é profundo, e o barco não foi produzido para viver à margem. Em arte poética, quanto maior a profundidade, melhor será a viagem. Muito pouco de superfície. Um submarino é esteticamente mais feio do que um confortável transatlântico, porém, as viagens mais interessantes e de melhores aprendizagens ocorrem a léguas submarinas. Que o diga o Capitão Nemo. Pena que os poços rasos somente permitam o curso dos barcos de papel. E a infância passa tão rápida como as tempestades...
– Do livro A URGÊNCIA ESSENCIAL, 2013.
http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/2965863