[As Estações do Espírito]
Reparem bem:
falo em espírito, e não falo em alma!
Procurei alguma unidade em mim,
um fio condutor de minhas ações,
ligando uma sensação à outra,
e esta outra, à outra ainda...
Reconheço: sou parvo nestas artes;
custei a descobrir que ninguém,
nem eu, mesmo tendo a vida por um fio,
pode existir ao longo de um fio —
eu sou meus proprios temas!
Desventurado é aquele que tenta
penetrar os labirintos meus!
Conseguirá apenas chegar às estações
onde o meu inquieto espírito esteve,
não mais está: sou alvo móvel!
E para ir de uma estação a outra,
eu não sigo trilhos — eu tenho asas...
Grande conforto é saber que,
vivendo de estação em estação,
não há nenhuma espécie de arranjo
lógico [ou temático] em meus escritos!
Sinal claro de que estou
mesmo a viver em tempos
"pós-era das trevas Modernas",
liberdade total de engendrar paisagens...
[Penas do Desterro, 07 de maio de 2011]