052 – A JANELA...
Olho pela janela, o dia é tão cinzento que quase nada vejo, estranhamente sinto que a janela olha pra dentro de mim. O que será que ela esta a ver? Se o que sinto eu não vejo e o que vejo eu não sinto?
Ficará sempre aquela dúvida se o cinzento da alma é mais ou menos cinzento que o dia que vagamente vejo pela janela! Mas a janela continua olhando pra dentro de mim, será que ela esta vendo minha alma por inteiro?
Talvez ela não esteja compreendendo que aquilo que chamo de alma, para ela não passa de um emaranhado de remendos sobrepostos que na longitude não do viver, mas do sofrer, são as cicatrizes das derrotas, das decepções, das melancolias que fartamente fui colhendo entre tantos embates desguarnecidos de felicidades no sucumbir. Será que um amontoado de pedaços de sonhos toscamente remendados pode ser chamado de alma?
Talvez a janela nunca tenha visto algo tão diferente, tão estranho, tão estranho que parece estar vendo um espantalho, uma assombração, mas isto é tudo o que sou e esta é a minha alma.
A janela nada diz, nem eu falo coisa alguma, mas alguma coisa sinto que a janela sente, a janela sente alguma coisa que minha alma sente, minha alma sente que não sou nada, mas nada até que eu não sou, o que sou eu já disse, o que disse é que dos sonhos somente pedaços guardei, das derrotas somente as cicatrizes ficaram, mas alguma coisa ainda hoje permanece por inteiro, são as lembranças de você, pois você é a saudade que a minha saudade mais sente saudades!!