Jorge e a vacina

Ontem Jorge tomou a vacina da gripe. Saiu cedo, pra ser o primeiro e não enfrentar fila. Chegou em casa, e deitou dizendo que tava com reação da vacina. Eu achei estranho, pois tomei semana passada e não senti nada. Encostei a porta do quarto e falei pras crianças irem brincar no quintal pra não encomodar o pai. Na hora do almoço fui chamar pra comer, disse que não queria nada, perguntei o que ele estava sentindo, pus a mão na testa dele pra ver se tinha febre, não tava, voltei pra dar comida pros meninos. Na hora da tarde, fui no quarto pra ver como estava meu marido. Sentei na beira da cama e ele me apertou a mão e pediu que ficasse com ele. Ofereci um refresco de caju, que ele gosta muito, mas disse que só queria ficar um pouco comigo. Acariciei seus cabelos, seu rosto, e quando olhei pro seu rosto, vi que estava chorando. Num murmúrio disse que sempre gostou muito de mim, que perdoasse as grosserias que tinha feito nesses anos, que só tinha vivido pra mim e pras crianças, mas que a hora dele tava chegando. Pedi que parasse de bestagem, que só tinha tomado vacina e qua amanhã estaria bem de novo, balançou acabeça e pediu que chamasse o Padre Zeca. Não acreditei! Desatei a falar que ele não sabia o que tava me pedindo, que nem febre ele tava, que ele tava era com medo e que homem era tudo frouxo. Danou-se. Jorge levantou dizendo que eu era uma mulher sem sentimentos, que sabia que eu tava só esperando ele bater as botas pra arrumau outro marido e que ele mesmo ia chamar o padre. Se arrumou todo, pra quem tava morrendo, até que ficou ajeitadinho, e lá se foi. Logo depois da novela chegou com cara de cachorro que caiu da mudança dizendo que ainda não era dessa vez que eu ia me livrar dele. Pediu janta, comeu tudo e foi dormir. Mulher tem que ouvir certas coisas!

stelamaris
Enviado por stelamaris em 06/05/2011
Reeditado em 10/12/2013
Código do texto: T2953788
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