Banho de chuveiro

Jorge acordou velho hoje. Tem dias que ele acorda como se tivesse, de novo, vinte anos. Ranzinza, já começou achando o café fraco, reclamou do chuveiro do banheiro, que vive pingando. Quieta eu rezava pedindo a Deus que ele saísse logo pro serviço. Mas tá, tava de folga e eu já previ meu dia mesmo antes do primeiro gole de café. Pela porta eu via sua sombra ou assombração na varanda, e parece que até o sol lidava com ele diferente. Danei a limpar a cozinha, nem precisava, mas não queria assunto. Quando vi, ele já vinha de marreta e ponteiro na mão, entrou no banheiro e danou a quebrar o pobre do registro do chuveiro que só pingava de hora em hora. Era uma pancadaria só, nem fui vê, só senti um aguaceiro passando pelos pés e, quando olhei era água pra todo lado, e o pobre xingando palavrão que eu nem conhecia. Fui pro quintal e sentei no pneu que os meninos fizeram de balanço na mangueira, pensando no diacho dessa vida. Acho que Jorge tá menopausa também, pois anda tão nervoso com tudo! Virei a cabeça e já vinha ao meu encontro dizendo que ia chamar o seu Tião pra terminar o concerto, nem falei nada, e ja foi dizendo que eu podia fica serena que a bagunça ele limpava. Trabalharam o dia todo no banheiro, e deixaram tudo limpinho. Só comeu quando terminou. Mais tarde, enquanto eu lavava os pratos veio pro meu lado todo cheio de saliência, cheirando meu cangote e me chamando pra inaugurar o chuveiro mais ele. Acho que Jorge não tá muito bom da cabeça, mas de banho de chuveiro ele tá bom demais.