O Baú das recordações
Tirei o ‘baú’ debaixo da cama. À luz de ‘lampião’ fui tirando os guardados: Cadernos da época do primário, um minidicionário de francês-presente de um colega, uns postais mostrando lugares parasidíacos (amarelados pelo tempo), cartas de amigos ( de todos perdi contato), álbuns com fotos diversas. Um recorte que consegui a base de olhos lacrimejantes (o antigo dono não queria se desfazer dele, mas por não poder ver uma menina chorando), gentilmente ou forçadamente me deu seu bem precioso com uma linda dedicatória.
No silêncio da noite me veio uma lembrança doída. Por onde andará aquele grupo de meninos e meninas que fizeram parte da minha infância e adolescência? Será que venceram, realizaram seus sonhos? Casaram, constituíram família?
Certo dia... Fui tirar a segunda via da identidade e reconheci um colega da época do primário e por ele fui reconhecida. Por coincidência, fui chamada para ser atendida no guichê onde ele estava atendendo, e de repente começamos a rir e relembrar os tempos passados. Engraçado disso tudo, era que Claudionor (esse é o seu primeiro nome) era o mais tímido, o mais isolado, mas naquele momento em poucos minutos – enquanto ia preenchendo meu novo documento- começou a colocar em dia sua vida de adulto, pai de família, casado com uma mulher maravilhosa (palavras dele), tinha filhos, funcionário público, era feliz.
Muitos dizem que sou feito uma velha carola que gosta de amontoar o que não tem valor, mas... No ‘ baú’ revejo minha história, relembro o que a mente teima em apagar, renovo as esperanças, releio as baboseiras que escrevia (quando ainda não tinha hematomas nem calombos na cabeça), acho graça dos elogios cheios de mel que recebi dos amigos de outrora, e aquelas poesias cheias de rimasssssssssssssssssssssssssss(rs) que costumávamos encher folhas e folhas de papel? A vida deu voltas... E eu aqui remexendo o ‘baú’.
A menina da foto com apenas dois anos de idade sorri para mim. Tudo nela reflete inocência. A outra foto mostra uma menina de quatro anos, uma franja cobrindo os olhos repuxados, cabelos negros ( na altura dos ombros); a menina de 7 anos sorri, despreocupada, cabelos longos, magra... O que a levou a sorri daquele jeito? A de 12 já está um pouco mudada( séria, emburrada). Não queria tirar a foto ou será que levou bronca da mãe? A jovem de 17 anos faz pose. Daquela idade em diante, as fotos se multiplicam, os cortes de cabelo mudam, sempre magra, pálida... Ora sorrindo, ora fingindo está olhando para um lugar qualquer.
Volto à realidade. Lá fora a chuva cai... A lâmpada do abajur simula um tempo passado onde a claridade se fazia através do lampião. As lembranças me fazem viajar no tempo. O ‘baú’ já não está debaixo da cama, coloquei uma parte das coisas em caixas, algumas se perderam nas mudanças, umas estão encravadas na alma... Enquanto ouço o som da invernada me enrosco de tal forma nas lembranças que nem me dou conta que a aurora já está chegando.
05/05/2011