CAMINHADA MATINAL
CAMINHADA MATINAL
Certa vez, enquanto eu caminhava sozinho na orla marítima da Praia da Baleia, mas não me sentia só, perguntei para mim mesmo. Quanto seria o valor daquela maravilhosa caminhada? Eis que de repente como um raio a minha própria alma respondeu: não existe dinheiro que compre; moeda que pague; tesouro igual; recompensa maior; prazer mais saudável que se possa ter; bem melhor; jóia mais valiosa; bem material mais caro; declaro não existir preciosidade mais bela e maravilhosa que se possa comparar; na verdade esse bem não se compra nem se vende é uma dádiva do Senhor; é sem dúvida uma obra prima da natureza, que Deus criou para espairecer as pessoas que têm a oportunidade de por aqui passar.
Olhei para o relógio e os ponteiros marcavam exatamente sete horas da manhã. O sol declinava os seus primeiros raios sobre a imensidão do mar manso como um cordeiro. O tempo não poderia ser melhor. O espelho d’água refletia o brilho do esplendor como na festa da primavera num colorido de flores. O verde esmeralda das suas águas cristalinas era deslumbrante e encantador. O vento ameno soprava as palhas dos coqueiros, que ladeavam as margens da orla, produzindo um cenário apaziguador. A vegetação de mangue servia de adorno e testemunhava a naturalidade e originalidade daquele paraíso. A brisa era agradabilíssima. Alguns pescadores num trabalho de solidariedade empurravam rumo ao mar uma canoa, que voltava da manutenção. O colorido do vai e vem das embarcações era maravilhoso, gratificante e os meus olhos extasiados não se cansavam de contemplar aquele espetáculo. O fluxo e refluxo das ondas calmas eram verdadeiras sinfonias a alegrar os meus ouvidos, a aliviar a minha alma e a carregar minhas mágoas para longe e bem longe dali. Ao longo eu divisava marolas brancas como neves a contrastar com o verde, dando um colorido sem igual. O céu estava lindo, azul como o manto sagrado de Nossa Senhora dos Navegantes, A Padroeira, dos pescadores. Nos arrecifes alguns nativos colhiam algas para as suas sobrevivências, outros pescavam de anzol em pequenas lagoas entre pedras na maré baixa. Maçaricos solitários ao longo do percurso davam um tom bucólico à paisagem. No alto, os carcarás rasgavam o céu em suas revoadas. A orla estava belíssima, suas areias constituíam verdadeiras estradas de terra firme construídas pela própria natureza com um toque das mãos milagrosas do Grande Arquiteto do Universo.
Deus mora aqui e a segurança ainda reina. A paz, a harmonia e a concórdia tomam conta deste pedaço de chão abençoado por Bom Jesus dos Navegantes. A natureza ainda é senhora de si, haja vista que não foi agredida pelas mãos arrasadoras dos homens, que destroem sem piedade seu próprio habitat.
Oh Deus como é bom e salutar poder caminhar a beira mar na companhia de Jesus, sob seu olhar protetor, sem sobressaltos, medos e constrangimentos. Como é agradável ter o privilégio de admirar tão bela paisagem; curtir a vida; sentir a brisa; desfrutar deste paraíso; respirar ar puro; sentir o gosto da liberdade; provar do sabor da natureza; deliciar o cheiro do mar, espairecer a minha mente; confortar o meu espírito; afogar as minhas mágoas; bronzear o corpo inteiro; tomar banho de água fresca; nadar em água parada em pleno mar, como se fosse uma lagoa de água salgada. Por um instante achei que estava delirando ou até mesmo sonhando acordado, mas verifiquei tudo em minha volta e constatei que era a pura realidade, apenas eu não tinha palavras mais belas para narrar à suntuosidade daquele episódio.