[A Estrada Aposta com o Vento]
[Eu não quero dizer nada...]
De manhãzinha, pelo caminho da serraria...
Ao longo da estradinha avermelhada
sopra um vento suave
que acabou de agitar
os arbustos de gabirobas
apenas ficados atrás de mim...
À noite, quando me deito,
eu penso na estradinha solitária...
Como estará agora, sob o luar,
sem os meus passos,
sem os meus olhos,
sem a minha face ao vento...
Sem mim, as coisas nem são?
A estrada aposta com o vento
que eu voltarei um dia,
em busca das gabirobas;
mas o vento, tendo me jurado tristezas,
diz que eu não terei forças,
que, afinal, em meu peito não
cabe toda a mágoa da partida!
Ah, mas eu voltarei um dia...
E então, a estrada me receberá
e me sorrirá ao sol da manhã;
e o vento, a aposta perdida,
e sem mais o que fazer,
apenas me lamberá a face...
E à noite, todas as contas feitas,
todos os preparativos aviados,
eu pensarei ainda na estradinha
e nas flores amarelas ao vento,
caídas sobre a minha face dormida...
[... E só então, o vento terá a última palavra]
[Penas do Desterro, 02 de maio de 2011]