048 - O POEMA DA TRAVESSIA...
Eu sei e espero que ela não saiba. Eu sinto e o que sinto é inevitável e disto tenho absoluta certeza, só não tenho a certeza se ela sente, se não sente, sentirá. Nem sei se será uma derrota ou uma vitória, mas morrer é viver o mistério da transformação do corpo, não da alma por inteiro, mas talvez da essência da maneira do pensar e do sentir. Depois que nós nos encontramos você sempre esteve presente em todos os momentos da minha vida e esta será a primeira viagem que terei que fazer sozinho. Mas se algo é inevitável porque hei de temer? Muito menos vou desafiar o imperscrutável! E este será meu penúltimo poema, penúltimo deste meu tempo, tempo que não terei para escrever o último poema, ou melhor, tempo até que terei, mas as minhas mãos voltarão a serem iguais às mãos de uma criancinha e uma outra mão muito mais segura firmará a minha mão para que eu possa escrever meu ultimo poema, o poema da travessia. Mas será que esta mão saberá guiar a minha para que o poema reflita em si tudo que vou pensar e sentir no momento da travessia para o reino da morte?