Solilóquio
As gargalhadas ainda soavam altas, constantes nos ouvidos do artista. As vozes, repletas de escárnio, ziguezagueavam entre seus pensamentos – o som era um veneno para a alma.
Ele fugia do riso, do ridículo e do patético. Fugiria de si mesmo se pudesse.
As risadas ainda o perseguiam por onde quer que ele fosse.
Enlouquecedor, insano. Entre suas sinapses e neurônios, o eco continuava.
Ha.
Ha.
Ha.
Em círculos, ele correu e correu. Sua exaustiva jornada pela surdez não chegaria ao fim tão cedo.
Vivo pelo terror, seu coração palpitava furiosamente em seu peito. Suas batidas pareciam risos.
Ha-ha.
Ha-ha.
Ha-ha.
Com a dor insuportável da humilhação, o pobre louco jogou-se no chão e olhou ao redor. Estava no ponto de partida. E as gargalhadas continuaram.
Ha-ha-ha.
Ha-ha-ha.
Ha-ha-ha.
Cego de ódio, o artista pegou uma pedra e jogou ao redor – tentando acertar aqueles que riam.
As meras sombras foram atravessadas e se aproximaram. O artista, derrotado, deixou-se tocar por aquelas silhuetas inexistentes. Quando se viu engolido pela escuridão, pôs-se a rir.
Sua mente foi engolida pela enlouquecedora solidão enquanto sua voz se espalhava por todas as direções, todas estas desertas.
Ha-ha-ha-ha.
Ha-ha-ha-ha.
Ha-ha-ha-ha.