O chamado do vento...

O chamado do vento...

Abri a janela... Doce criatura de asas.

Ninguém imagina como as janelas podem iluminar os pés que estão presos ao solo... Lasso corrimão.

Os gritos da cidade cinza, ainda são luxo...Posso ouví-los... Absurdos.

Quem sou eu,nessa morada de silêncio, para corromper com as tramas complexas do quebrar de vidros?...

Solta, ainda corro riscos...

O vento arrepia os seios, na mármore que o cálice denota... E "jazem" tantas marias mortas... (Pleonasmos sempre auxiliam a forma...) E crescem tantas marias novas...

Basta de correr olhares em voltas!... Os sinais estão abertos, a essa hora da madrugada.

Ventos nas calçadas... Como na canção profetizada... Queridos são os laços de pernas e braços... Do arame farpado, acho graça.

Ouvi o vento na nuca que foi arrebatada pelos sentidos... Do abarcar nas mãos os lenços do infinito... Doce abrigo.

Abri as janelas...Danço nua, nas medalhas do quadril... E, acinzentada, a cidade se espanta... Ainda pura... Em prédios, criança.

O vento uiva, em meus ouvidos... Diz-me estar aqui, a rodear minha boca... Elos das tranças.

O grito ainda continua, nos arredores do prédio... Pedras e asfaltos... Gente e rabiscos.

Posso observar, ao longe, as colheradas que deram... Posso colher da lua as respostas que nunca vieram... Assim, com ares de bruxa, posso colher os condimentos dessa sopa de letrinhas.

Olhei o céu... Há pintas em todas as costas celeste. Pintaram, no azul flácido, estrelas com gosto de bonecas... Brincar com as meninas que brilham... Que ofuscam... e depois, dão lugar ao acordar.

O vento abriu meus olhos... Há tempo, as marias comem migalhas... E choram...E sorriem, por tão muito.

Eu?... Mais um gesto...

Elas? Solitárias...

O grito parou!... Escuto os carros que se amam, em qualquer esquina, sem sentir na pele o gosto da intensidade.

Os lençóis amassam... Silêncio...

01:20