LABAREDAS DE SAUDADES
No instante em que não mais recordar, no momento em que se encontrar achando que verdadeiramente se olvidou de mim para nunca mais se lembrar surgirei do interior de alguma melodia sonorizada pelo vento casual e sem destino que incessantemente ficará soprando em seus ouvidos harmonizando o meu nome num prelúdio sem final. Surgirei de vez em quando e em qualquer lugar: nas colinas, nos campos verdejantes, na relva castigada pelos seus olhos, na sua casa, na sua cama, na sua alma, em seus pensamentos e nas suas entranhas. Sentirá a minha presença no meio da noite, no despertar da madrugada, no alvorecer. Surgirei dentro do seu repouso e o seu pensamento voltado para mim vai permanecer ardendo na sua vigília incendiando seu corpo e sua alma. E você fixará no vão de sua estância sombria, no seu leito desguarnecido, no tapume obscuro e sentirá uma sede impulsiva acompanhada de uma vontade de ingerir bastante líquido da minha fonte. Terá um enorme ódio correndo nos canais do teu corpo. Aumentará o desejo de me ver, de me tocar, de beijar eternamente a minha face, minha boca e todo o meu corpo, mas eu não mais vou está presente. Só vou está na sua imaginação tostando a sua pele e resmungando nos seus ouvidos. Você ouvirá a minha voz dizendo: “ainda te quero!”. Sofrerá um estágio de desequilíbrio ao ouvir meus murmúrios: “ainda te amo...”.
Vai gritar, se enroscar e se misturar com os lençóis molhados do suco do seu corpo. Uma lua cheia aparecerá na janela de sua ilusão insinuando toques eróticos e você vai se rasgar com as suas unhas aguçadas ao recordar dos tempos em que amávamos intensamente. Vai enlouquecer com as lembranças dos meus beijos e começará a desfiar a camisola transparente, mordendo a sua carne como uma fera no cio, mas não conseguirá se livrar do tédio nem da solidão. Cada vez mais meu nome soará ardentemente como lavas dos vulcões, você sentirá o aroma do meu perfume e embriagada cairá num delírio profundo. Tudo ficará mais pálido ainda, seus olhos se fecharão como se os cílios guarnecessem às pálpebras e costurassem com fibras de guipura para não mais se abrirem. Tudo ficará em trevas e seu espírito cairá numa solidão de raízes profundas.