Diário de Sherazade III
Querido diário,
Hoje, contei novamente a história da dona Árvore, só que para uma turma do jardim.
Fiquei impressionada com as novas imagens que eu criei corporalmente. Eu simplesmente me transformei na dona Árvore “em pessoa”! Rsrsrsrs! Simulei o caule, os galhos, as folhas, vivi as suas emoções e sonhos...
Percebi que o contato com os alunos, durante a contação, aguça consideravelmente a minha criatividade. Embora eu reconheça sua importância, a experiência do ensaio me parece técnica e solitária. As crianças parecem respirar a história comigo, entende? Além disso, a essência de todo conto é o encontro, não é verdade?
Outra questão tem chamado minha atenção. Sempre me apoiei em objetos para contar histórias. Acreditava que sem eles a história perdia um pouco do seu encantamento ou não prenderia a atenção dos ouvintes.
Atualmente, estou modificando esse meu ponto de vista.
Reconheço que os objetos têm seu valor, tanto quanto minha caracterização como contadora, que envolve figurino e maquiagem. Contudo, acho que preciso acreditar mais no aspecto verbal das histórias.
As palavras, por si sós, têm seus encantos, seus mistérios, seu perfume! Quero aprender a manejá-las com mais e mais destreza. Usar as palavras para colorir as histórias.
Eu estou ensaiando a releitura de uma fábula, apenas com base na voz e na expressão corporal. Faço isso porque uma vez me chamaram para contar uma história em um evento para crianças e eu estava sem nenhum objeto ou figurino. Nessa ocasião, eu até contei uma história, mas não fiquei satisfeita totalmente com o meu desempenho, pois fiquei insegura sem meu material.
Serviu-me de lição.
Aliás, todo contador de histórias precisa ter o seu próprio repertório.
Estou montando o meu, pois sempre pode pintar uma oportunidade para minha atuação!