OS ENCANTOS DA NOITE...

A noite cai e eu fico embevecida com as
mudanças que vejo, que sinto acontecerem,
não apenas nela, mas também dentro de mim...
Deslumbro - me na claridade de prata de um luar
derramado, ainda que a lua seja, hoje, apenas uma
vírgula invertida, na imensidão do cosmos; seu brilho
não é menor do que ostenta, quando se faz cheia...
E o céu agradece, pontilhando de estrelas imensas e
cintilantes, o vasto campo em que repousa, gloriosa e
generosa, iluminando - me com seu encanto místico,
enquanto profundos suspiros me escapam, vindos do
coração... A fada natureza se recolhe em seu quase
silêncio, para engendrar novas formas para a sua criação,
pois que a todo instante, está em mutação, renovação,
e daí é que surgem novas plantas, novas flores, novas
cores e formas, na sua criação... Numa clareira, onde
pode receber o brilho da lua e das estrelas, recolhe - se
entre as folhas ciciantes, que uma brisa suave e perfumada
tange, docemente, como uma canção de ninar que a
induza aos sonhos mais lindos, que irão inspirá - la...
Dorme, certa de que seus guardiões estão a postos...
Na minha perene solidão, não tenho olhos atentos a me
olharem com ternura nem braços prontos a me abraçarem
com carinho... Minhas companhias são as criaturas
encantadas da noite, meus sonhos, minhas fantasias,
saudades e lembranças.
Nos raios de luar, imagino seres angélicos
brincando de balanço, quase ouço seus risos
cristalinos, ecoando pelo espaço...
Meus pensamentos se perdem por entre
as estrelas, como crianças levadas pisando
em cristais, ora tropeçando numa lembrança
triste, ora correndo com a recordação de
um momento bonito. A magia noturna é qual
ópio, ninguém passa incólume! Somos
todos atingidos pela delirante beleza que
ela contém! Azul... De um azul que enfeitiça,
que embriaga, que parece me absorver de
uma forma que com ela me confundo...
Vôo tangida pelo vento azul que vem
chegando com a madrugada, sentindo - me
leve como a inspiração de que o luar me
preencheu, enquanto deitada na relva
macia, apenas ouvindo e observando os sons,
as criaturas notívagas, o firmamento que,
de repente, parece tão próximo, com tanta luz,
a Via Láctea povoada de estrelas e suas
"leitosas" nebulosas que aparentam estar
imóveis... Mundos... Tantos mundos
espalhados pelo universo e eu querendo
apenas um cantinho aconchegante, acolhedor
de dois braços macios, do corpo de um
alguém para quem tanto faz que eu exista,
ou não... Que ironia... Se ao menos eu pudesse
escalar um raio de luar e chegar às estrelas...
Não posso, então, faço companhia aos
seres guardiões da natureza, para velar seu
sono e disso, com isso, encher meus
alforges de inspiração, para dar vida à poesia
que existe nisso tudo... Em silêncio...