Holocausto Nunca Mais —PsyCity IV (Romance Neo-Pós-Moderno)

A DIVINA

CONTAGEM

Domingo. Hélio adentra com a mulher o ginásio coberto no qual se realizam os encontros dominicais no Templo da Igreja do Salvador dos Últimos Dias. O recinto comporta vinte mil e quinhentas pessoas sentadas. Está lotado, com muitas outras em pé. Os ministros da Igreja há muito não viam um afluxo intenso de fiéis ao culto matinal. A explicação está na veemência e no inusitado das mensagens do pastor Antunes.

Ainda que não sejam, exatamente compreendidas, há nelas uma afirmação de que as esperanças dos humildes de coração não são castelos de areia, serão cumpridas em rápido prazo. A prédica começa:

— Desde os tempos antigos, Deus visita e resgata o povo das aflições. No Antigo Testamento os exemplos são muitíssimos. Ele livra o povo ameaçado e inferiorizado, de inimigos cheios de recursos bélicos, e muito mais numerosos. Exerce a misericórdia em favor dos que se mantêm no caminho do conhecimento das verdades mais simples da vida.

— Santo Agostinho dizia que o Novo Testamento está escondido no Velho, enquanto o Velho se revela no Novo. Eusébio de Cesaréia, morto em 340, afirmava que cada Profeta, cada escritor antigo, cada revolução do Estado, cada lei, cada cerimônia do Velho Testamento, aponta somente para Cristo, anuncia somente Ele, representa apenas Ele. Ele, que está no Pai Adão, progenitor dos santos.

— Cristo, inocente e virginal como um mártir em Abel, um renovador da palavra em Noé, abençoado em Abraão, o alto sacerdote em Melquisedeque, um sacrifício voluntário em Isaac, chefe dos eleitos em Jacó, vendido por seus irmãos em José, poderoso no trabalho no Egito, um doador de leis em Moisés, sofredor e abandonado em Jó. Odiado e perseguido, na maioria dos profetas.

Antunes fala ter chegado o tempo do cumprimento das profecias. O discurso causa certa apreensão quando menciona a ""amblose disforme"", doença virótica que impede a multiplicação celular do zigoto, e a formação anatômica do feto. As mulheres infectadas não mais têm condições biológicas de gerar filhos.

— Irmãos, interroga, dramaticamente Antunes: Como separar o joio do trigo ? Quem é joio, quem é trigo? Mulher, você gostaria de ter filhos para serem serviçais de Satã?

— Ele e suas legiões precisam de seus corações e de suas mentes para afirmar esta cultura. Em sua gênese, ajudou o Plano Divino a estabelecer as colônias de desenvolvimento na Terra. Vendo belas as filhas da raça humana, cobiçou-as. Atraído pela beleza natural do planeta, resolve ficar. Daí a alcunha de “anjo caído”: caiu no oceano de luxúria carnal do poder. Através dos milênios reinou, reina. Em breve, não mais reinará. Este planeta Terra será tirado de seu domínio globalizado.

— A raça humana é uma raça de corpos com uma alma coletiva luciferina. Isto explica por que há tanto horror diário no mundo, por que acontecimentos estranhos, violentos, estão a se repetir diariamente nas ruas e avenidas das grandes cidades. Crianças assassinando crianças, pais matando covardemente a descendência. Eles, os filhos, vítimas de infanticídios. A criminalidade de todos os tipos aumenta: parricídios, homicídios quase que gratuitos, irmão contra irmão, guerras, genocídios, centenas de escândalos políticos e econômicos, poluição ambiental, mental, prostituição infantil, fome, miséria, mentira, medo, agressão. Autoridades dizendo que isso é sinônimo de desenvolvimento.

— A alma do homem não pertence ao homem. A alma do homem é uma caixa de Pandora. O sacrifício crístico, a oportunidade de pegar as rédeas de seu corpo e de sua alma, vencido pela evidência diária da condição humana satanizada.

— Vejam a realidade, leiam os jornais, tvvejam a tvvisão: todas estas evidências são mais fortes que qualquer palavra, ideal ou ilusão.

— O que presenciamos hoje é a globalização, a satanização da alma pessoal e coletiva. Os economicamente fortes dominando e submergindo os mercados mais fracos, tornando-os dependentes de quinquilharias que geram riquezas para poucos e aniquilam o princípio espiritual de seus consumidores.

— Deus não gosta que sejamos idealistas e ingênuos. Irmãos, o conflito sempre existiu e sempre existirá. Mas o homem tem direito a uma essência. Livre arbítrio significa poder avaliar a natureza Ética e o valor das coisas, do trabalho, da realidade. O homem tem direito a abrir seu coração individual, a criar soluções e identidade social que não sejam deletérias. O homem tem direito a lutar para não ficar socialmente submerso num mercado de valores de papéis, mais adequado a uma descendência de uma raça de traças.

— Nas ruas, a insegurança aumenta, assim como a percentagem de pessoas afetadas pelo pânico urbano das metrópoles. A força pública de repressão ao crime se confunde com a violência dos marginais, contra membros indefesos da população. A extorsão de bens por parte da força policial, motivada pelos baixos salários, é moeda corrente. As pessoas que defendem os direitos humanos são cada vez mais estigmatizadas como sendo sonhadoras de uma utopia que existe apenas em suas cabeças.

Sheila isolou-se subjetivamente por tempo suficiente para perder a continuidade do discurso de Antunes. Ao voltar a prestar atenção, o pastor está dizendo:

— Deus só sabe contar até um. Para Ele um é suficiente. Cada pessoa é uma, inimitável, inconfundível, irrepetível. O sacrifício de Cristo chamou cada um de vocês à salvação. Mas que dizer de um mundo onde a salvação e a transcendência não são mais possíveis? As motivações luciferinas tomaram conta das vidas das pessoas e as perderam para a eternidade.

—As ruas das grandes cidades explodem em acontecimentos incompreensíveis, sintomas externos de uma guerra que está se travando entre forças, grandes forças internas, impulsionadas pela submissão cega do homem a uma cultura de malefícios tecnológicos, uma cultura do e para o consumismo, uma cultura do sai de baixo espiritualidade.

— Qual de vocês gostaria de ter filhos para a glória de Lúcifer? Para ser por ele explorado e escravizado em suas vidas físicas, ter as almas eternamente sob nefasta coleira? Deus, em sua infinita misericórdia, livra cada um de vocês dessa desatinação. Breve não mais haverá descendência para a satanização humana neste planeta.

— Melhor não haver descendência do que haver filhos caídos para servirem às guerras, calúnias, traições, humilhações, à prostituição do corpo e da alma, ao ódio, à injustiça, à corrupção de um mundo dominado por uma filosofia e uma intencionalidade de comedores de hambúrgueres. De globalizadores de popcorns.

— Qual de vocês gostaria de gerar uma descendência para servir à herança de interesses forjados nos gabinetes dos políticos luciferinos, das organizações mundiais movidas pelas ambições de ganhos, egoísmos pessoais e de classe, por divergências e preconceitos étnicos, tribais, conflitos anímicos, sociais, econômicos e ideológicos?

Pastor Antunes menciona a ""amblose disforme"" enquanto fonte da providência divina para não mais alimentar os espíritos geridos por Lúcifer, e suas tropas de choque. Afirma que o homem sempre necessitou e necessitará de uma força transcendental capaz de mantê-lo na linha. Do contrário, o homem transforma a realidade em sofrimentos, mazelas, aflições, doenças.

— A vida é apenas uma embriaguez. A sociedade se transformou numa tenebrosa rede de intrigas, poder, drogas, crueldade e luxúria. Não há virtude nisso: há confusão cada vez maior, nesse atalho para o progresso de uma civilização que se acomodou à cômoda barbárie das pessoas da poltrona da sala de jantar.

— "Amblose disforme", esse é o único caminho possível. Esse vírus vai permitir um basta nesses fenômenos novos, complexos e destrutivos, parte de uma interação entre compulsão instintiva e exploração “cooperativa” de cada um por todos e todos contra cada um. Deus não está ausente. A "amblose disforme" é a maneira da sabedoria divina dizer basta. Fazer-se presente.

— Basta com os mecanismo sociais da violência urbana. Basta com o genocídio da política de todos contra todos todo tempo. Basta com a desintegração orgânica da espiritualidade, com a manipulação pervertida da violência por grupos que dizem estar fazendo o melhor pela sociedade, quando a liderança desses psicopatas, conduz aos efeitos terríveis que presenciamos todos os dias. De que forma nos livrar da conexão dessa vontade coletiva, interagindo com forças destrutivas que só aumentam nossas necessidades e compulsões?

— A ciência tudo explica, mas não é capaz de achar uma droga que possa impedir a mulher de perder a propriedade de gerar descendência. Por quê? Porque uma descendência para cumprir os desígnios luciferinos? Se Deus disser ao Sol: é hora de se metamorfosear em estrela vermelha, contra todas as expectativas científicas, astronômicas, ele avermelhará...

O discurso religioso termina. Após o culto, Hélio dirige o carro em direção ao apartamento. É como se, alternando com a esposa, fosse sua vez de ficar absorvido por sensações psi. O asfalto oscila, a avenida se abre em infinidades de direções, percorrendo tempos subjetivos diversos, que acompanham a jornada até seu apartamento.

Sim, é possível seja isso, para o Salvador dos Últimos Dias...Está cada vez mais esquisito habitar a Terra...Os escolhidos, desde Giordano Bruno, as pessoas que pensam um mínimo, sabem que existem milhões, bilhões, infinitos lugares diferentes e parecidos com a Terra. Afinal, chegada a hora fortuita, esperada, da migração para outra morada do Pai, onde haja possibilidades, que não apenas a da satanização das almas.

Intimamente Hélio se interroga: Por que Deus criaria todos esses infinitos espaços? Para desperdiçá-los com o vazio, com o nada?... O problema deste planeta é que muitas pessoas mortas estão ocupando cargos políticos de comando, comunicação e controle...Pessoas que não têm a mínima condição de acompanhar e se interessar pelo que realmente poderia mudar para melhor as condições de sobrevivência coletiva. Pessoas dominadas pelas ambições luciferinas do “Reich dos Mil Anos”, que nada mais têm de humanas, e nem sequer desconfiam disso: de que trabalham para a globalização satânica do planeta.

Começa a acreditar: Se esse pastor Antunes estiver falando coisa com coisa, os sinais do fim em breve estarão muito nítidos aos olhos surpresos de todos. Uma nova chance, um novo começar, o eterno retorno da raça humana a uma condição que já se repetiu alhures, mil vezes mil vezes.

Talvez, Lúcifer, espírito, e sua tropa de choque, sua arrogância, e os corpos da raça humana, sejam complementares. E nessa prometida nova morada, após milhões de anos de suposta evolução, a coisa toda da civilização venha a terminar desse jeito, como terá acontecido, possivelmente, em outras supostas moradas do Pai, semelhantes à Terra. Outros mundos talvez tenham acabado da mesma forma, habitados pelo código genético da raça primata sapiens/demens. É essa, a destinação da raça humana, onde quer que tenha habitado, onde quer que venha a habitar.

As interrogações dele correspondem às de centenas, milhares, de outros crentes. A nova habitação do ser humano terá um sol e uma lua parecidos com este sol e esta lua terrenos? A vida humana terá uma continuidade, uma história como neste planeta, terminará como está a terminar, agora? As perguntas de Hélio se multiplicam, e as de Sheila. O casal olha para os filhos que parecem muito, muito concentrados, para crianças com um sistema nervoso disperso, pelas solicitações conflituosas de uma metrópole como São Paulo.

CANAL 10:

A TVVIRTUAL

No quarto de Sabrina duas faxineiras dividem a limpeza do apartamento. Ao adentrarem, por curiosidade, no quarto da moça, ficam circulando, como se numa praça ou parque, como se não soubessem o que fazer. Uma hipótese é que fiquem tão perturbadas com esse corpo belo, jovem, feminino, flutuando como se por mágica, a alguns palmos acima do colchão, que venham a perder a memória de seus afazeres, o contato com a sequência do trabalho doméstico.

A memória delas se dilui. O branco total substitui a mecânica das obrigações. Ficam iguais a recrutas faxineiros, sem ter o que fazer nos quartéis, perambulando pelos pátios e áreas adjacentes. Ou turistas perdidos num bairro estranho, talvez perigoso.

Enquanto isso as crianças habitantes do prédio, não querem mesmo nada com as imagens convencionais de TV. Sintonizam por controle remoto mental, o canal 10. As domésticas que tomam conta das crianças estão simplesmente possessas, por não poderem apreciar os programas vespertinos. As dondocas não sabem como os filhos conseguem fazer, que truque usam para, sem ajuda do painel de controle de canais fixo na tv, na ausência da utilidade do controle remoto, conseguirem sintonizar a tvvirtual. Elas querem ver novelas, mas são bruscamente interrompidas pelas imagens do canal dez.

À noite, na hora sagrada do Jornal Nacional, das novelas do horário nobre, a telinha misteriosamente fica chuviscando, como se com defeito. Os serviços de conserto de tvs faturam uma nota preta. As reclamações no Procon, Decon, e outros, por usuários que ainda estão com suas tvs no período de garantia, chovem aos milhares. Os técnicos alegam que as “consertaram”, substituíram peças, ajustaram, que a culpa não é deles, que o defeito é de fábrica.

A coisa do chuvisco tvvisivo transforma-se em epidemia. Os jornais noticiam que isso acontece em consequência de frequentes explosões solares. Os cientistas dizem que elas estão interferindo na retransmissão dos programas via satélite. Alegam que as antenas retransmissoras das emissoras de tv estão sendo afetadas. As meninas e os meninos parecem saber que não é exatamente isso... Calam-se. Guardam para si, intuitivamente, a causa dos distúrbios.

O povo das poltronas da sala de jantar pergunta-se perplexo: Como conseguem fazer isso acontecer ? Donde vem a força dessas imagens ? Quem as usa quer o quê ? Qual o truque para fazer valer esse Ibope acima das outras emissoras de tv ? O mando do mundo não é mais dos adultos, a raça humana não realizou a mutação entre o símio/sapiens/demens e o ser humano racional. E os gostmovies mostram essa cultura, essa civilização que não é nem de macacos nem de humanos.

QUEM SE

IMPORTA ?

O mundo mudou muito sim. Mas as pessoas apegam-se desesperadamente às antigas rotinas, na esperança de verem tudo voltar ao normal, como se, realmente, os estranhos eventos fossem apenas provisórios.

Carla, ao voltar à rotina do escritório, “está mais nova”, “até a cara mudou”, na opinião de seus companheiros de trabalho. Sente-se melhor, não apenas pelas férias, mas por saber-se outra. Acha que seu ego talvez esteja sendo absorvido e substituído por uma dominação que, ao invés de inquietá-la, traz para si uma enorme sensação de bem-estar interior: as engrenagens que revelam a mecânica perversa da realidade são agora, para ela, simplesmente acessíveis.

Antes da “outra”, tinha um grande medo de que a preciosa seiva natural e passageira de que é feita a vida, estivesse inapelavelmente desperdiçada na ignorância e na inconsciência desse inusitado silencioso, a cercar e envolver as pessoas, sem que elas possam fazer algo, com resultados efetivos, para combatê-lo.

Carla conta agora com certa facilidade em sentir sobre si, a intensidade oceânica dos sentimentos das pessoas que trabalham com ela. É como se seus íntimos temores estivessem claros para ela. Não raras vezes desvia delas os olhos. Ainda não sabe absorver as mensagens de seus psiquismos e devolvê-las com outro olhar, ou palavras, que venham a afirmar outras coisas e valores, diferentes da calada fraqueza de suas carências. Parecem não saber o que fazer, enquanto se agravam os estados patológicos mórbidos.

Sente-se ao mesmo tempo envolvida e distante da antiga identidade. Acha incrivelmente superficial esse enredo burlesco mas relevante, que domina e controla as percepções de suas rotinas. Agora ela pode observar o mundo real por detrás da farsa, um mundo onde vários medos se agitam e interpenetram-se através de vibrações camufladas, em atitudes supostamente agradáveis, despretensiosas, risonhas, inconsequentes.

Agora, Carla vê essas máscaras enquanto sintomas de uma perversão pessoal e coletiva, atuante em suas rotinas subconscientes, como uma “Espada de Dâmocles”, à qual são obrigados a aceitar passivamente. Mas as sequelas, mais cedo ou mais tarde, aparecem: às vezes como uma infecção que corrompe o corpo após ter minado a alma. Mantida por muito tempo, camuflada, finalmente somatizou-se.

Ela se pergunta: Essa espécie de morbidez inconsciente não é a responsável por essas novas séries de virulentas infecções viróticas. ? Se essa morbidez é o túnel, a ponte, por onde penetram as hepatites C, F, H e, as outras mutações macabras do H3V, que estão dando um baile na pesquisa científica, com a proliferação de formas variantes, coloridas, do horror virótico.

Carla capta intercâmbios de vibrações entre as pessoas. Desconfia: essas vibrações estão gerando um certo “campo magnético”. Ele somatiza terríveis doenças que a ciência, aliada à falta de vontade política dos governos, não consegue debelar. A exemplo da variante FLP do H3V, que ferra as pessoas infectadas com manchas amareladas. As manchas geram enormes taxas de desemprego, porque nenhuma empresa quer em seus quadros, funcionários infectados por uma doença terminal, que mata em pouco tempo. Os sintomas são camufláveis, mas não de todo.

Os salões de beleza criaram um novo tipo de consumidores de seus serviços: a maquiagem radical, que camufla os sintomas das variantes do H3V na epiderme. Outras dessas variantes, a do vírus PSDB, apresentam manchas alaranjadas, e as vítimas do PUF são “ferradas” com marcas retangulares, cor preta petróleo, na pele.

É como se as pessoas estivessem sendo marcadas como gado, separadas em lotes, com sintomatologia a cores, para algumas instituições saberem, mais tarde, o que fazer com elas, segundo a identificação, a marca do dono na pele, como acontece com os rebanhos bovinos.

As vítimas infeccionadas, após padecerem das mais escabrosas variantes de degenerescência orgânica, passam entre 12 e 30 meses definhando, perdendo a noção de tempo e a competência orgânica, distanciando-se do princípio de realidade, e do princípio do prazer sem forças para reivindicar o que mais seja, além de sete palmos de chão, com todos os órgãos perceptivos embotados, sem elasticidade ou resistência.

Carla ainda não sabe como usar a percepção extrasensorial para definir semanticamente a causa das doenças viróticas que alguns médicos alegam ser mutações do ADN do H3V. Ela enxerga, com essa espécie de terceiro olho perceptivo, um emaranhado de causas, mas ignora como criar as palavras para comunicar a percepção cinestésica dos fatores e reações químicas, através dos quais, se lhes apresenta a realidade. Sabe que a atuação de tais vírus é, em parte, efeito de intensas interações da energia radiante entrecorpos.

Ela observa esses intercâmbios energéticos, mas não possui uma teoria capaz de explicá-los. Mesmo se a tivesse, quem acreditaria nela? Tal como sugeria o slogan de uma antiga série de tv, Millennium: “Espere, desespere, atormente-se. Quem se importa ?”

OS GRINGOS E MANOA:

A CIDADE PERDIDA

NA AMAZÔNIA

Um dos membros do Conselho Editorial reúne-se com Rossi. O Conselho avaliou a totalidade dos argumentos do Arquivo Jangal. Uma coincidência fortuita permite que Rossi participe de uma expedição à Amazônia, organizada pelo milionário americano Peter Aníbal Norton. Norton, ex-oficial americano da 3ª Guerra do Golfo, participou, como observador militar, da cobertura jornalística à invasão americana à 3ªGG. Ex-agente da CIA, traficante internacional de armas e material estratégico, seu curriculum vitae criminal daria para preencher uma resma de papel de fax, sobre façanhas bélicas, monitoramento cibernético de empresas, prática de espionagem industrial a serviço da guerra biológica.

A reunião tem por objetivo definir a participação do jornal de Rossi, na expedição do americano, sem nenhum vazamento desta informação, até a possível obtenção de resultados. Espera-se ouvir alguma explicação científica razoável sobre as ocorrências incomuns que assolam o dia a dia das grandes cidades. Acreditam alguns observadores, que emissões da tvvirtual são originárias da selva amazônica. Explicações racionais, definitivas, não apenas especulações teóricas de leigos, podem resultar dessa expedição.

Quanto menos pessoas souberem da aventura rumo às entradas secretas aos túneis que supostamente conduzem às cidades subterrâneas na Amazônia, melhor. “O segredo é a alma do negócio”, lembra um membro do Conselho Deliberativo do jornal.

Rossi e um fotógrafo estarão por conta de um periódico diário com sede em São Paulo. O comando da expedição fica com o gringo, Norton, portador da tecnologia de pesquisa vias coordenadas obtidas por satélite, e do resultado de estudos de antropólogos, filólogos, geólogos, de aventureiros e profissionais da ciência, que uma vez tentaram desvendar esse mistério amazônico, e lograram voltar para contar suas histórias. Valeu ouvi-las, ou lê-las.

A orientação científica da expedição inclui dados em Magnometria, ciência que mede a intensidade dos campos magnéticos do planeta, utiliza radares ultrasofisticados e sonares de última geração. Eles permitem mapear, com precisão milimétrica, as extensões de túneis e edificações subterrâneas.

O americano pesquisou dados de centenas de pessoas, as mais e as menos gabaritadas, que organizaram, neste e no século passado, grupos de exploração desses locais lendários da selva amazônica, antes e depois das proezas do cel. Fawcett. A causa dos desaparecimentos de muitas expedições, um mistério, como se a frase indígena, muitas vezes repetida, “aqueles que procuram Manoa desaparecem para sempre”, fosse uma advertência a considerar.

Aníbal Norton e os outros dois membros estrangeiros da expedição hospedam-se no apart hotel NewLorena da Avenida Rebouças: um alemão naturalizado americano, Marcel Hermann Breed, Paul Bayle e Vassari Castelar, ex-oficial naval da marinha americana. Rossi telefona para um primeiro contato. Precisa conhecer a turma do mercenário americano, saber quais os objetivos e interesses em jogo. Por que incluir na expedição um jornalista brasileiro ao invés de outro, de sua própria nacionalidade?

Quais as motivações reais e interesses dos gringos que estão por trás desta expedição ? Talvez nunca descubra. De qualquer forma se questiona se fará ou não parte dela. Tem dúvidas, muitas. Penetrar nos cantões inexplorados, selvagens e isolados da Amazônia, é a melhor coisa a fazer no momento?

Seu sexto sentido conduz a uma atitude defensiva: os propósitos dessa aventura parecem juvenis. Estariam, talvez, melhor situados numa máquina eletrônica de fliperama para divertimento de caras pintadas. Rossi se pergunta se não tem mais a fazer que enfrentar situações de perigo no coração agreste da selva, imitando os aventureiros das antigas produções cinematográficas hollywoodianas.

Precisa ajuizar os perigos, as incertezas, encarar a fragilidade das expectativas otimistas, tendo em vista os resultados frustrados, nada invejáveis, de centenas de pessoas, mais ou menos preparadas, que os antecederam. O quotidiano pode ser alimentado com emoções mais domésticas. É menos arriscado. Por outro lado, trabalho e aventura não costumam estar junto.

Vale a pena buscar as respostas para os mistérios que cercam certos sítios inóspitos, de uma região que nunca foi hospitaleira e amena, mas cruel e implacável, com esses aventureiros menos precavidos, que até então se arriscaram a penetrar em certas imediações despovoadas da selva fechada, próximas à Serra do Roncador. Rossi e Aníbal Norton marcam uma entrevista na sala de visitas do apart hotel NewLorena. Nesse primeiro contato vão avaliar estratégias e possíveis conflitos de interesses.

A LUA

SIMÉTRICA

INVISÍVEL

As pessoas começam a se interrogar: "O quê, afinal de contas, são aquelas imagens tvvisivas do canal 10? De onde provêm, será um novo canal? Que significam os filmes em tempo integral (24 horas de exibição contínua), sem fundo musical, efeitos especiais ou intervalos para a exibição de vídeos publicitários?"

Agora, não apenas as crianças mantêm uma curiosa sintonia. Os índices de audiência dos outros canais caem a níveis alarmantes. Os departamentos financeiros das emissoras convencionais de tv estão deveras apreensivos com a inesperada concorrência.

Os noticiosos tvvisivos, radiofônicos, a imprensa escrita, as autoridades do Ministério das Comunicações, os departamentos jurídicos das emissoras de tv, os intelectuais, os frequentadores de bares e restaurantes, os habitantes das residências sofisticadas, os dos barracos nas favelas, todos comentam: ninguém permanece indiferente a cada história diária desse estranho e insidioso canal 10.

As opiniões divergem e caducam em rápido prazo:

— Não, as imagens do canal 10 não podem ser produto, tal como noticiado anteriormente, de superproduções franco-ibérica-nipônicas. Tais boatos foram desmentidos na semana passada.

Produtores de filmes daqueles países aproveitam a ocasião, chamam a atenção para a qualidade esmerada das produções do “canal virtual”. Advertem sobre uma suposta tentativa secreta de Hollywood, planejada e administrada pela CIA, dirigida pela Agência de Segurança Nacional, de abrir o mercado latino e sul americano para a exibição de filmes que mantivessem o consumo hegemônico das produções daqueles estúdios.

As notícias continuam especulativas, estapafúrdias e divergentes. A situação para os empresários do setor tvvisivo prossegue singularmente vexaminosa. Os comunicados de circulação interna, divulgados pelo Ibope, por outros institutos de pesquisa de audiência, fazem com que fiquem, os executivos das emissoras, cada vez mais apreensivos, impérios econômicos alicerçados nas imagens de tv sentem-se ameaçados e investem capital na investigação eletrônica do incômodo fenômeno das emissões de filmes de invejável qualidade de produção, sem que apareçam os devidos créditos, nem intervalos comerciais.

Nos filmes do Canal 10, são mostradas chacinas de finais de semana, assim como as dos feriados prolongados, na Grande São Paulo, com mais de 150 mortos. Os ânimos exaltam-se ao paroxismo, a ultraviolência banalizou-se. Qualquer trivialidade é motivo para soltar os bichos, abrir a tampa da panela de pressão mental. Dela saltam os conteúdos recalcados do inconsciente coletivo, nas personagens urbanas polarizadas contra si mesmas. Os paranóicos saudosistas da Guerra-Fria dizem ser uma nova estratégia de domínio psi, agenciada pela ex-União Soviética, com financiamento dos paxás do petróleo do Oriente Médio.

Jornalistas da revista Newsweek e do The Times, em reportagens de capa, comentam os custos astronômicos das produções de filmes com 24 horas de duração. Anteriormente, a produção que chegou mais perto, Berlim Alessandreplatz, de Rainer Fassbinder, diretor alemão influenciado por Howard Hawks, Fritz Lang e pelo dramaturgo Bertolt Brech, não chegou a 12 horas de exibição contínua, produzida no terceiro quartel do século passado. Tais filmes virtuais são considerados desperdício de capital, sem retorno do investimento. Agora, o canal 10 parece desmentir este dogma da indústria cinematográfica. Os filmes “full-time” da tvvirtual ameaçam a audiência dos outros programas tvvisivos, inclusive os do horário nobre.

Poucas pessoas podem vê-lo por inteiro, exceto nos finais de semana. Um entrevistado alega:

— Ficar desperto 24 horas, tudo bem, um dia ou dois. Mas três ou quatro vezes por semana é difícil.

Um estudante de Letras da USP opina:

— Tenho de ir trabalhar, estudar, dormir.

Uma “socialite” faz charminho:

— Os afazeres domésticos, a higiene pessoal, meu cabeleireiro, não permitem que os veja por inteiro. Os cientistas e técnicos ainda não chegaram a uma explicação razoável do inusitado fenômeno tvvisivo do Canal 10. Há coisas muito esquisitas acontecendo sem que ninguém saiba explicar.

Em todos os lugares do mundo, pessoas crianças, adolescentes e adultas, de todas as nacionalidades, raças e religiões, comentam os significados das imagens. Sim, porque os filmes exibidos no Canal 10, em São Paulo e no Brasil, são os mesmos em exibição em todas as outras grandes cidades planetárias. Muda apenas a sintonia do canal de tv, e a aparência física das personagens. As imagens são as mesmas. Segundo opinam alguns comentários abalizados, até os enredos se assemelham ao estilo neo-realista de fazer cinema dos diretores italianos pós 2ª Guerra Mundial.

Muitas são as opiniões divergentes:

— As personagens, por vezes perversamente sinistras, parecem inspiradas nos filmes de horror do século passado, nos seriados tipo, A Noite dos Mortos-Vivos, Vampiros, Pânico, O Massacre da Serra Elétrica, Sexta-Feira 13 e demais personagens infantis que imitam Chucky, de Brinquedo Assassino, A Noiva de Chucky, O Filho de Chucky, O Neto de Chucky, O Filho do Neto de Chucky, e outras atuações adultas inspiradas em Freddy Krueger e Jason. O canal 10 é uma mistura deles com os noir-movies, os filmes de suspense e espionagem de Hitchcock, as ficções policiais de muita ação com cenas de violência excessiva, e toques de humor negro.

Um ex-cineasta brasileiro e atual cronista escreve sobre os filmes do canal 10:

— Têm muitos pontos em comum com as superproduções épicas e históricas, neo-atualizadas, tipo Cabíria, de Giovanni Pastrone, Nascimento de uma nação e Intolerância, de David Griffith. Outro cronista opina:

— Na real mesmo, a influência de Samuel Fuller, esse gênio maior de Hollywood, tem tudo a ver com esses filmes malucos da tvvirtual.

Na Itália, muitas pessoas ligadas ao cinema e ao jornalismo, identificaram os filmes sem produtores e exibidores explícitos, sem crédito e nome de autores, com um dia exato de duração, nestes termos:

— Eles estão muito próximos de uma síntese dos estilo dos irmãos Taviani, dos filmes de Lina Wertmuller com os de Gabriele Salvatori, Gianni Amelio, Monicelli, Scola e Fellini. Considerando-se a remota possibilidade de algum novo prodígio do cinema mundial, lograr fazer uma síntese dessa miscelânea de estilos e compilações fenomenológicas da realidade, é parte de um processo de criação de um espírito, individual ou coletivo, de altíssimo grau de extraordinária potência intelectual.

Um ex-guerrilheiro do Greenpeace, e deputado reeleito pelo Partido Verde da cidade do Rio de Janeiro, comentou:

— As opiniões divergentes, originais de diversas fontes de percepção do mundo real da tvvirtual, são um sintoma da doença contagiosa da dispersão, da impossibilidade globalizada de duas pessoas chegarem a um consenso.

— O mundo está como o diabo gosta. Nada contra as herdeiras das mulheres da tv global. Elas tinham como cartão de visita e único “talento”, mostrar o traseiro e o peitoral, via vídeo. Não era preciso representar, bastava para elas o “teste do sofá”. A realidade está em mutação. A olhos vistos.

— Acho que já não é sem tempo se as pessoas começarem a explorar a extremidade superior da espinha dorsal. A opinião da senadora Heronilda da Silva, causa polêmica: As pessoas parecem ignorar que tudo está mudando em volta, e são elas que devem, mesmo sem saber, de alguma forma, ser as agentes dessas mudanças. Mesmo quando inconscientes. O Terceiro Milênio pede, implora, por essa atitude cultural vista nos gostmovies.

Os jornalistas não conseguem sair das abordagens à antiga das velhas estruturas do agir e do pensar. Mesmo sabendo que elas não conseguem proporcionar uma resposta adequada para os conflitos subjetivos desses mundos estranhos, mutantes, inexplicáveis: virtureais. As opiniões são as mais divergentes, produto talvez da inaudita perplexidade:

— As gerações que nasceram no final do século XX e neste século XXI, não desenvolveram uma personalidade, um modo de pensar e agir característicos, personalizados. Daí, as referências dos comentários se aterem a autores e escolas de cinema das décadas do século anterior (Jornal O Globo).

— Por mais absurdo seja, a verdade: interesses estéticos de qualidade finalmente prevalecem nas avaliações de profissionais do cinema, suscitados pelo misterioso monitor virtual do canal 10. Estranho, mas as pessoas parecem, pelo menos provisoriamente, concentradas em emitir opiniões estéticas, mesmo as defasadas, como se as perversões fetichistas fossem mais fortes, e nelas conseguissem refúgio para o medo de não saberem, de outra forma, comentar os afortunados acontecimentos (Folha de São Paulo).

Na França, são apontadas semelhanças de estilo muito sutis dos intrigantes filmes “full-time” tvvisivos, com as produções de baixo custo da Nouvelle Vague, dirigidas por Jean Lodard, Fran Truffaut, Claude Brol, Alainnais, Loumalle, Jacvette e Agnès Wandá.

Críticos ligados aos Cahiers du Cinéma discordaram dessas opiniões, afirmando:

— Em tais filmes predomina a marca registrada do cinema intimista voltado para a observação fotográfica (literal) do quotidiano. Há neles flagrante identificação com a maneira de filmar de cineastas como Alain Nestor Corneau, Régis Wanier, Jean-Pauling Rappenau, Mapialat, Michelville, Erich Hohmer e Jean-Jacques Annaud.

Nos Estados Unidos, comentaristas ligados a produtores do cinema hollywoodiano, manifestaram-se em discordância:

— Os filmes do canal “full-time” são uma síntese dos estilos importados dos diretores de outros países: os australianos Peterweir e Georgetow Millering.

Três críticos, dos três mais lidos jornais da Costa Leste dos Estados Unidos, apontaram semelhanças inconfundíveis com o estilo de fazer cinema do cineasta Hectorio Babencowsky, do francês Barbet Schoeder e do holandês Paulino Verhowen.

Artigos na Play-boy-boy e na Pentehouse, subscritos pelos cineastas nova-iorquinos, Tim Jarmuschen e Johnathan Saylles, faziam filmes baratos, influenciados no estilo de filmar neo-realista. Eles dizem ser os filmes da gosttv “semelhantes ao estilo de filmar de roteiristas que passaram à direção, a exemplo de Holistone, Law Kasdan e de artesãos como Jh. Landison e Joy Carpter.”

Um resenhista do Rolling Quântico Journal sugere:

— Estas opiniões conflitantes são apenas sintomas de uma degeneração, de uma corrupção do caráter das pessoas. Uma confissão de que, na real, ninguém sabe o que está acontecendo. Ao invés de dizerem claramente isto com simplicidade, ficam inventando teorias sobre o cinema “full-time” da “tv fantasma”. Permito-me dizer que eles têm tudo a ver com a mensagem pacifista de To the Rig Sthing, de Spique Lee.

No Reino Unido, na Alemanha, nos países nórdicos, no Japão, na China, Argélia e Argentina, na Austrália, no Canadá, em Cuba, na Grécia e na Holanda, na Hungria, India e Iuguslávia, no México, na Nova Zelândia, na Polônia, no Rio, São Paulo e em Portugal, as argumentações e influências são debatidas com intensidade semelhante. O efeito tvvirtual globaliza a teorização sobre a cultura cinematográfica de hoje e antigamente.

De qualquer forma, os críticos e comentaristas da aldeia global admitem que a “tv fantasma”, segundo a opinião do cardeal arcebispo de São Paulo:

— Trouxe de volta os diálogos e as discussões, as argumentações cheias de sutilezas, geradas pelos antagonismos de opiniões, pelas oposições teóricas que não se resolvem, exceto provisoriamente, num clima dialético, característico da efervescência intelectual e da inquietação dos sentidos, própria dos anos sessenta/setenta do século XX.

— Estamos presenciando o mais avassalador fenômeno de globalização jamais produzido neste planeta, comenta o escritor do romance “Mui Vivace Pueblo Brasileño”. Os barões que produzem a maior parte dos filmes da comunicação cinematográfica e da produção dirigida aos tvespectadores das tvs a cabo, estão espumando bílis pelos cantos da boca, através de todas as mídias falada, escrita e tvvisiva do planeta. De fanáticos defensores da globalização de suas produções, eles não param de investir na execração pública da (ainda) fantástica produção ghost da “TV-full-time”. Pimenta nos olhos dos outros é refresco. Globalização: boa apenas quando promovida por “eles”.

— “Cada um puxa a brasa para a sua sardinha”, comentário de Leo Cakoff Bisneto, organizador da atual Mostra Internacional de Cinema.

— A “TV-full-time” canibaliza, leia-se globaliza, os outros canibais da globalização. E eles não podem fazer nada: As frases foram pronunciadas pelo deputado Lindbergh Asturias Netinho, ao vivo, num programa de debates num canal de tv.

Nos EUA, a grande indústria pressiona os congressistas, exigindo deles uma mobilização, em rápido prazo, no sentido de acionar os poderes do Estado, através de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, destinada a investigar que interesses subversivos estão por trás da produção desses filmes do canal “full-time” tvvisivo.

Começa uma nova “caça às bruxas” nos EUA, por parte da “Agência Nacional de Segurança”, da Cia, dos agentes secretos modelo “Arquivo 3X”, do FBI. Alegam os barões da produção cinematográfica hollywoodiana:

— É “muito dinheiro mesmo”, para que sejam produzidos movies com 24 horas de duração e com essa excelente qualidade técnica, sem que apareçam os créditos de produção, ou inserções publicitárias.

Maryan Berttrand, relações públicas de grande produtora da Cinécitta, pronunciou-se em nome do estúdio, justificando-se:

— Os filmes do Canal 10 não têm trilha sonora, créditos de produção, legendas, nome da equipe técnica, e os atores são desconhecidos. As autoridades federais americanas em trabalho conjunto com a Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço, finalmente conseguem identificar a origem dos sinais em VHF/UHF da tvvirtual.

Atestam os cientistas da NASA que os sinais são provenientes de uma grande estação orbital indetectável por meios eletrônicos convencionais. Ela está simplesmente invisível. Em seu perigeu, encontra-se a pouco mais de 365.000 quilômetros, em órbita elíptica e simétrica, à órbita da Lua, do outro lado da Terra.

A declaração do cientista da NASA soa bombástica em todos os meios de comunicação planetária. As pessoas geralmente comentam as notícias como se as autoridades científicas estivessem inventando coisas:

— Que absurdo, diz alguém numa mesa de bar, enquanto folheia o jornal diário. Como pode um cientista da NASA dizer uma besteira dessa?

— Estação orbital invisível, veja você, os cientistas estão no mundo da ficção científica, opina outro leitor, assinante do segundo maior jornal de São Paulo, ao ler a notícia no café da manhã.

— Com certeza estamos sozinhos no mundo da realidade, quando um cientista da NASA afirma uma bobagem dessa, é porque não há mais parâmetro para sentir o chão debaixo dos pés, escreve em sua crônica dominical Luois Fernandíssimo.

— “Tudo que tínhamos até então por realidade, está a se desmanchar no ar”, comenta o âncora do Jornal da Record.

As notícias da Agência Nacional de Aeronáutica e Espaço afirmam, através de comunicado oficial que, no apogeu, o ponto mais afastado da Terra, essa distância da estação orbital, não visível (porque em outra dimensão da matéria) encontra-se a 406.000 quilômetros. A longitude média entre a Terra e esta estação gigante, orbital, é de 389.321 quilômetros.

As opiniões das ruas, segundo pessoas que aprenderam a ouvir e a transmitir boatos atentam que os governos perderam o controle sobre a situação: atestam que a fonte responsável pela geração de tais imagens cinematográficas do Canal 10 provém do satélite Europa, do planeta Júpiter.

Uma certa confusão se estabelece, ninguém parece ter mais certeza de nada. As instituições governamentais teimam em esconder outras informações científicas pertinentes sobre a “tv fantasma”, da população civil do planeta, talvez para não causar pânico. O abismo de hostilidade amplia o fosso existente entre as classes governantes e a massa crítica desgovernada que exige respostas, mas não as obtém.

O cronista Carlos Grossi, escreve que a atividade dos “serial killers” não é mais característica apenas do american way of life, ou de países do Oriente Médio. O coração das trevas das metrópoles se afirma onipresente, onisciente e onipotente, nos movies full-time da tvvirtual. Afinal, a realidade dos eventos desses filmes, não é mera projeção do que acontece com as personagens supostamente ficcionais do diário coletivo das grandes cidades.

— As autoridades incompetentes não estão nem aí. Seus poderes não servem para nada, exceto para aumentar os níveis de insegurança coletiva: real e subjetivamente. Parecem não saber o que fazer. A maior parte desse caos, que propicia a elaboração de teses universitárias do fim do mundo, é gerado por elas, autoridades (Jornal da Tarde).

Num programa de entrevistas, um repórter menciona o descaso dos representantes dos órgãos do poder público, ao citar o autor da “Teoria Done”, que usou as frases finais do replicante do filme Blade Runner Ten, para externar a própria opinião: “É uma experiência e tanto viver com medo. Isto é que é ser escravo.”

Até que o óbvio ululante é descoberto e aceito por unanimidade: os filmes do canal 10 são uma representação do que está acontecendo na vida diária das pessoas. Elas simplesmente estão em estado de perene compulsividade agressiva: alguns chamam isso de 3ª Guerra Mundial, a continuação dos desdobramentos do “Reich dos Mil Anos”, afirmação do poder econômico-financeiro do “Reich dos Mil Banqueiros”.

Após a intervenção da NASA os ânimos melhoraram. Pelo menos sabem agora de onde a coisa vem. Sua origem não está em nenhuma misteriosa e distante nebulosa, encontra-se logo aqui, no espaço diametralmente oposto à Lua, do outro lado da Terra. Depois que a NASA pôs de pé o “Ovo de Armstrong”, as manifestações de astrônomos, físicos e matemáticos se multiplicaram. O astrônomo Cerqueira Milke, em crônica publicada pelo jornal de maior destaque da capital São Paulo, manifestou a opinião:

— Essa enorme estação orbital invisível, equivalente ao tamanho da Lua, emite os sinais da tvvirtual. Ahá, há uma teoria denominada “Das Faíscas Quânticas”, que sugere que esta é apenas uma estação de reciclagem de um certo tipo de energia radiante proveniente do espectro visível dos seres humanos no planeta Terra. Energia essa que deles se desprende completamente, seis horas, seis minutos e seis segundos, exatamente após a morte cerebral. Esse modelo de captação de ondas cerebrais inclui a participação também de animais. Estes, já dizia Darwin, “também sonham”. Todos podem observar, igualmente,quando aparecem nos filmes da tvvirtual.

Tony Goose, Físico formado pela Universidade Federal do Piauí, em entrevista por vídeofone para a CBN de São Paulo, “o canal que toca a notícia verbal”, emite opinião:

— A transmissão das imagens da tvvirtual provém deste inacreditável, invisível, corpo celeste: provas irrefutáveis, manifestas, de que matéria e energia não são entidades separadas, mas manifestações de um mesmo fenômeno: a tvvirtual é a Teoria da Relatividade na prática.

Stevens Thalking, Físico Prêmio Nobel, garante:

— As faíscas quânticas de transmissão da tvvirtual são raios laser gravitacionais. Esses raios são produtos da unificação das forças do eletromagnetismo e da gravidade. Os raios gravitacionais geram efeitos interdimensionais de deslocamento de massa, ionização atmosférica e “Zeemanização” dos átomos. As câmeras usadas por esses “cineastas misteriosos” têm “sintonia quântica e lentes laser”.

Angélica Binebone, PhD em Física Teórica, teoriza, do alto de sua cátedra na Universidade de São Paulo:

— A ghosttv pressupõe um mistério, até para a ciência mais avançada. As frequências operacionais desse corpo celeste que transmite os sinais, compensam a oscilação de imagens, sem causar uma refração desigual na ressonância da faixa visível. Talvez não haja três pessoas no mundo, ainda hoje, capazes de compreender as sequências de equações elaboradas por Einstein sobre a Teoria do Campo Unificado. O planeta tornou-se um campo unificado por essas forças, concentradas na estação orbital invisível, mas muitíssimo atuante. É a fenomenologia da globalização do “Reich dos Mil Anos”.

Wilhelm Goodchild Fraser, Físico e administrador do Programa de Investigação da Estação Orbital Virtual, gerenciado pela NASA, manifestou-se através da revista especializada, Scientific American:

— Sinais de parabólicas em locais ermos da floresta amazônica, captados por satélites monitorados por técnicos da Administração de Aeronáutica e Espaço dos Estados Unidos, indicam a existência de um sítio na selva fechada, contendo uma infra-estrutura tecnológica que inclui radares, antenas parabólicas, torres de emissão e de transmissão de sinais via satélites, câmaras, monitores, filtros solares, no que parece ser uma grande central de observação radioastronômica. Ao que se sabe, nenhum governo da Terra reivindicou, pelo menos até agora, a titularidade dessa central tecnológica. Ela emite para, e é receptora de sinais, da Estação Orbital Interdimensional.

DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 23/04/2011
Reeditado em 12/12/2013
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