JEITO CERTO

Será que existe um jeito certo de se gostar de alguém? Será que é mesmo possível encontrar o equilíbrio em que não se sente de mais nem de menos? Penso se o correto é segurar os impulsos, contê-los como se fossem tocáveis, deter palavras que não parecem apropriadas, analisar cada frase antes de dizê-la e, assim, agir maquinalmente conduzida pelas lições que os meus erros e os erros dos outros me obrigaram a aprender.

Pergunto-me se a dor da decepção é de fato menor quando já se atingiu a maturidade forçada no quesito "relacionar-se". Outrora, quando tudo era novo, eu sabia chorar algumas lágrimas e depois apenas secá-las, mas, com o tempo e as repetições, chorar já não me satisfazia... Eu queria respostas, mesmo que, na maioria das vezes, eu já soubesse tudo o que precisava saber.

Talvez o jeito certo de gostar seja aquele em que se fecha os olhos e o corpo fica leve para ser guiado pelas piruetas do vento. Gostar sem querer descobrir as medidas e sem buscar as razões. É o querer que, embora caiba em seu peito, extravasa seus poros, mas sem ser maior que você. Não há como desejar um amor que nos esmague e sim que nos entorpeça sem roubar nossos principais sentidos e nos tire o fôlego, mas não nos sufoque.

Qual é graça da paixão se ela não nos deixar um pouco loucos e qual é o beneficio da loucura se ela não nos der coragem? Por sua vez, para quê ter coragem se não soubermos usá-la para o bem?! Eu quero ser corajosa para abraçar alguém com toda a força e fazer com que entenda o quanto a sua presença para mim é importante, mas não quero perder a noção de que o meu querer não está acima do querer de quem abraço.

Disseram-me que ser adulto é ter a capacidade de fechar cicatrizes por mais profundas que sejam, no entanto, quando eu era adolescente e acreditava em contos de fadas, tinha o dom de construir novos castelos sempre que algum desmoronava. Agora, contagiada por essa maturidade que parece nos ressecar por dentro, adotei a mania de observar escombros, caminhar pelas ruínas e buscar aquelas vigas que antes me sustentavam. Não sei onde encontrar novas vigas, acho que nem sei em que lugar posso reconstruir as bases.

Se o seu amor for o meu sustento, perdoe-me, pois então não servirá para mim. Embora me falte uma conclusão sobre qual é o jeito certo de gostar de alguém, ao menos sei que não é sugando a sua vida.

Quero que consiga perceber meus olhos vermelhos mesmo que eu os tenha enxugado depressa e descubra o significada de cada entonação da minha voz. Quero que decifre meu sorriso triste, a risada falsa e o meu "não foi nada" que sempre quer falar tantas coisas. E quero que compreenda a minha necessidade de falar em códigos, pois para mim não é tão fácil ser transparente.

Acho que gostar de alguém do jeito certo, começa por deixar que esse alguém goste da gente e nos afaste dos destroços, mesmo que não seja capaz de nos reconstruir.