VERSOS URBANOS

E da pena

Que percorre o papel

E anuncia solitária

A imagem irrefletida na poça d’água

Nada mais que imagem.

É o anverso da vida

Sub-vivida na louca metrópole

Que avança tratoramente

E os fracos engole saciada.

Não há lamento nem dor

Que sufoque o grito parado

Também a cálida virgem

Sonha com o príncipe romanesco.

E às ruas os renegados multiplicam-se

É a metrópole Leviatã a comer

Os vacilantes.

Saiam íncolas do chão

Liberem o caminho ao nobre senhor

Que é dele a vida que lhes têm

Assim pensam os que da cidade se acham donos.

E da pena

Que percorre o papel

E anuncia solitária

A massa que avança e seu grito ecoa

E a metrópole embasbacada

Já não reconhece sua arrogância

E cede passagem ao povo

Que dela toma posse

E lhe faz mais humana.

E o transeunte John

Pincela às paredes pensamentos

Por muitos habilmente ignorados

E de posse da pena a poucos destinados

Embeleza a cidade com seus versos de concreto

É a poesia amalgamada de gente e monumentos.

E o semáforo abre e carros seguem seu caminho.