041 - PÉTALAS...
Hoje desejei, mas como desejei que nascido mudo, surdo e cego, fosse; assim estaria livre deste incêndio que queima a minha alma e me leva a declamar palavras vazias perdidas ao vento, pétalas de uma flor que a brisa morna do outono carinhosamente embala, para depois sem a menor comiseração atira-las ao solo.
Na poeira, ressequidas, murcham, morrem esquecidas. Se eu assim fosse, não teria visto os seus olhos, nem ouvido a sua voz, muito menos confessado a minha paixão. Seu caminho é um rastro de corações partidos e abandonados como as pétalas contorcidas na poeira, nada a perturba, nunca amou alguém, senhora do seu destino, tem o que queres, mas seu coração é tão desassistido de amor, tão farto de sonhos fúteis e desvairados que acabas sempre por vivenciar amarguras e solidão.
Agindo assim, será uma eterna fugitiva desta realidade tão infelicitante e desaforadamente vai tricotando os seus sonhos com os sonhos daqueles que inutilmente você faz sonhar.
Tudo isso caro lhe custa, pois na verdade brinca com seu destino e com destinos alheios, engana a você e a tantos e descobrira tardiamente que em lugar incerto a felicidade também se perdeu, pétala ressequida pelo vento levada.