Alegoria do não saber
...E o mar secou...
Contra todas as correntes
À revelia das nascentes
...E apareceram as pedras,
Os barrancos, os abismos,
Os antigos e longínquos epicentros, origens dos sismos.
...E foi um choque...
Mesmo para os céticos geólogos,
Oceanógrafos, e afins estudiosos, curiosos e toda a população.
...O fundo era íngreme...
Muito mais do que a mais inventiva mente ousou imaginar.
Impassível às exclamações, imutável ante a perplexidade.
Que falta faz o não saber dessas coisas!
Quanta saudade do velejar a distancia desses acidentes!
Como era lindo aquele azul!
Pouco interessa se aquela água agora é doce.
Se... Transformou-se em nuvens?
De que valem lagos piscosos se o bom era a dificuldade da pesca?
...E toda essa terra...
Irá desvalorizar bens litorâneos!
Distribuir-se a qualquer um.
...O mar secou...
Expôs fendas profundas,
Fendas que ninguém sabia,
Que não se queria.
...Mas um dia... Um dia o mar vai voltar...
Encobrindo as estradas, as casas, as matas,
E a essa nova casta!
Há! Ele voltará...
Nem que explodam as nuvens!
Que precisem salgar o tempo!
Que teimem em inventar um mar
Nem que o tenham que inventar.