Tratado da dor de amar.

Decepciona-me a dor, que não dói até o porão da alma até o limite do nada, pois dela hei de purgar-me, e só se for por amor. Extirpando todo esse doer, só por valer a pena viver. Viver a intensidade de sofrer por amar, viver a conquista, e o momento de perder-me nos limites dos sentimentos, embriagar-me no ócio dos momentos, naquele instante aonde até a recordação da dor é viver. Sentir, a profundidade e o martírio de ter vivido tudo aquilo, e só ter restado isso, um fragmento de recordação. Uma migalha e um tanto de coração, capaz de infligir essa dor que na verdade não dói tanto assim. Porque amor dói. Dói quando começa, dói quando acaba. Dói também quando tudo é calma, só porque é tão intenso, que não cabe na lógica, e consome-se na eternidade de um minuto. Como se o tempo, esse estatuto, brincasse com essa dor, que tanto dói em mim.

Gerson F Filho
Enviado por Gerson F Filho em 15/11/2006
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