[Asas Molhadas]

Velhos textos inéditos...

[É de manhã, eu olho e vejo...

O tempo pousa nas cumeeiras das casas]

Mal clareia o dia, e já luto para acender

a lenha molhada que ontem não recolhi;

a fumaça se espalha, ardem os meus olhos,

abro a janela e vejo a névoa sobre a cidade...

Em dias assim, chuvosos, frios, sem rumos,

a cidade se amornece em leitos preguiçosos;

o tempo é só latência; estaca-se na espera

de asas molhadas e entanguidas de frio.

Pousadas nas cumeeiras dos telhados das casas,

essas tristes aves ainda não podem voar,

esperam a quentura do sol que vai reanimar

as ruas da cidade — a do Comércio, a da Estação,

a do Matadouro, a da Saída, a da Saudade,

e até mesmo a comprida Rua do Cemitério,

pois, no teatro dessa vida besta,

o sol é o iluminador das mortes!

Quando o sol sair, aquelas asas voarão,

a lenha se acenderá e os meus olhos de criança

lacrimejaram à toa, por nada, pela vida que passa

e se perde na névoa fria da manhã invernosa!

[Penas do Desterro, 17 de fevereiro de 2006]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 17/04/2011
Código do texto: T2914821
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