[entre]tantas

um trago, um ato, um rasgo. um nome? fome, sede, protesto, ignorância, ânsia. o que ela faz quando a palavra dorme? um trago. ela hoje precisa de um trago. pra não se perder em seus próprios escuros. não escorregar em suas armadilhas de rato. não seguir tropeçando em seus próprios passos. vapor barato. febre. o avulso da pele. o âmago, o inerte, flerte. as prateleiras vazias e cheias de ascos. umidade, formigas, dias intermináveis. horas demais pra sua sede. vida demais em sua vida. perenes as coisas. os silêncios, os avessos. indescritíveis os começos e fins e a estrada que segue sem correções, sem passado e sem passar a limpo. uma vez só e quantas vezes mais? assim é. insustentáveis palavras. sentidos. memórias, frágeis danças destituídas de história. outro trago. o bar sujo de sangue. a vida manchada de sangue. as horas sedentas de sangue. o sangue banhado de sangue. carnaval. carne. açougues humanos escancarados. carnificina. holocaustos diários. as esfinges estão com as bocas abertas saturadas de seus próprios mistérios. os dentes e as armas. os homens todos enfiados em seus palácios de cartas. outro trago e outro trago. outro rasgo, enfim. ela pede. e segue. olhando para o espelho e para os avessos de si e a humanidade toda e além. até que a palavra se esgote, a mesa vire, e esse sangue quem sabe se transforme em vinho.

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