Diário de Sherazade II
Querido diário,
Hoje, contei uma história sobre a dona Árvore para uma turma do 3º ano. Gostei muito da experiência, pois houve muita interação por parte das crianças.
De fato, todos participaram muito da história. Elas imitaram animais que eu introduzi na narrativa de propósito. Teve cachorro, gato, cavalo, galo, macaco... Parecia uma sinfonia do zoológico. Rsrsrs!
As crianças adoraram e se divertiram bastante!...
No começo, eu ficava insegura com as chamadas intromissões, que são, na verdade, participações. Isso acontecia porque eu praticamente decorava toda a história (tenho boa memória). Então, quando uma criança participava espontaneamente, eu ficava meio perdida para lhe dar atenção sem perder o fluxo narrativo.
Essas experiências me fizeram reconhecer o valor das participações e passei até a programá-las para enriquecer a contação.
Conforme esclareci, eu mesma introduzi os animais na história, pois detectei uma brechinha para isso na parte em que se tratava de besouros, abelhas... Faço isso sem nenhum problema, pois me considero, como contadora de histórias, uma coautora dos contos que escolho, ou dos contos que me escolhem... Rsrsrs!
Às vezes, a experiência de não contar a história, em suas minúcias, gera uma ansiedade em mim. Sinto-me transgredindo um roteirinho. Parece paradoxal. Introduzo elementos na história com naturalidade, mas omitir palavras, expressões ou detalhes me causa angústia.
Hoje, gaguejei numa palavra. Isso me deixa triste, pois parece que fica evidente uma fragilidade minha ou parece que por um momento se quebra o encantamento da história.
Será que estou sendo muito exigente comigo mesma?...
Em uma oficina de contação de histórias, minha professora esclareceu que só preciso saber os fatos principais da narrativa e o restante pode ficar por minha conta. Essa orientação também está em um livro que estou lendo.
Preciso relaxar e curtir mais a dança das palavras e o ritmo dos gestos que a história evoca.
Quero fazer isso com cada vez mais desenvoltura!