A realidade do amor...
Praça pequena e solitária, o vento árido ao entardecer. Ele caminha lentamente, escolhe um banco, senta-se. A roupa impecável, o tênis, o boné... Olha ao redor tentando disfarçar. Seu corpo exala juventude. O tempo passa. Meia-hora, um pouco mais. Ele se levanta como quem vai embora. De súbito caminha até a entrada. Para. Volta, escolhe outro banco, mais alto, mais estratégico. Olha o relógio, estala os dedos. Então ela surge. Cabelo encaracolado, o caminhar jovem, quase despreocupado como toda menina, a desenvoltura de mulher. Linda. Cumprimenta-o com rápido beijo. Escolhe outro banco. Sentam-se um de frente ao outro. Conversam. Ela conversa. Animadamente com gestos amplos e rápidos. Ele a ouve e olha. Ela continua falando alto seus contratempos. Ele simplesmente olha. Como se pudesse ficar o resto da vida ali, naquela mesma posição, olhando... Ela não percebe o olhar submisso, a admiração e o encanto que a retina dele transborda em sua direção. Ela não sabe o quanto ele a esperou, ansiosamente. Não apenas meia-hora, mas a vida toda... O que vai acontecer com eles não se sabe. Ela levanta e se despede com sorriso de quem foi ouvido no final de um dia agitado. Na verdade, porém, é fácil perceber que ela nunca saberá que esse foi o momento maior de amor que ela poderia receber. Aquele silêncio... Aquele olhar! E um dia, daqui alguns anos, ela ira supor que merece mais valor, mais carinho, mais atenção. E jamais receberá novamente a mesma prova de amor que recebeu nesse encontro. Ele continua a olhando, enquanto ela parte. Levanta-se também, caminho oposto. Ele ainda dá um ultimo olhar. O ultimo.