RESIGNAÇÃO
Ao vê-lo chorar daquele jeito...
As barreiras foram esquecidas.
Afinal: ela é a empregada, ele é o patrão.
Há tanto tempo cuidou dessas gerações...
Suas mãos calejadas pousaram
Naquela cabeça curvada,
E em silêncio...
Não lhe faltou comoção.
Tinha face sem idade...
Já não sabia o que era chorar.
O carrapicho acinzentado,
Agarrado ao couro cabeludo,
Parecia gritar:
Meu regaço enorme há muitos acalentei!
Vida generosa... Fiquei.
Terra fértil... Nunca reclamei.
Rugas profundas,
Olhos silenciosos.
Tudo sinalizava: atenção.
Nessa ‘noite’ teve a certeza,
Do por que ter ficado,
Tanto tempo passado.
Esquecida estação.
Pura resignação.
Ao vê-lo assim:
Petrificado de horror.
Decidiu mais uma vez
Enfrentar furacões.
Sobreviver às perdas,
Apesar de ondas gigantes.
Caminhar, apesar dos espinhos,
Colocá-lo no ‘ninho’.
Abrir mão de alguns sonhos,
Não alimentar frustrações,
Cuidar dos tombos.
Descobrir cores nas trevas,
Apesar do céu carregado.
Trocar os sapatos velhos,
Consertar muros rachados,
Fechar portas com pregos.