RESIGNAÇÃO

Ao vê-lo chorar daquele jeito...

As barreiras foram esquecidas.

Afinal: ela é a empregada, ele é o patrão.

Há tanto tempo cuidou dessas gerações...

Suas mãos calejadas pousaram

Naquela cabeça curvada,

E em silêncio...

Não lhe faltou comoção.

Tinha face sem idade...

Já não sabia o que era chorar.

O carrapicho acinzentado,

Agarrado ao couro cabeludo,

Parecia gritar:

Meu regaço enorme há muitos acalentei!

Vida generosa... Fiquei.

Terra fértil... Nunca reclamei.

Rugas profundas,

Olhos silenciosos.

Tudo sinalizava: atenção.

Nessa ‘noite’ teve a certeza,

Do por que ter ficado,

Tanto tempo passado.

Esquecida estação.

Pura resignação.

Ao vê-lo assim:

Petrificado de horror.

Decidiu mais uma vez

Enfrentar furacões.

Sobreviver às perdas,

Apesar de ondas gigantes.

Caminhar, apesar dos espinhos,

Colocá-lo no ‘ninho’.

Abrir mão de alguns sonhos,

Não alimentar frustrações,

Cuidar dos tombos.

Descobrir cores nas trevas,

Apesar do céu carregado.

Trocar os sapatos velhos,

Consertar muros rachados,

Fechar portas com pregos.

Ione Sak
Enviado por Ione Sak em 15/04/2011
Código do texto: T2910682
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