LÁGRIMAS DO ALVORECER
Quando amanheço pensando em você, fico situado imóvel sem movimentar sequer as pálpebras. O corpo fica trêmulo, os olhos lacrimejados direcionados para o telhado do meu cinzento recinto vazio. Sinto um sufocante aperto dentro do peito que temo o meu melancólico coração ser esmagado, estraçalhado e fatiado pelas lâminas afiadas dos vidros pontiagudos dos pensamentos que parecem extirpar de mim a vida. Meu leito parece mover-se, tremer-se, balançar-se com o zumbir dos motores dos pesados sentimentos de solidão que estremece meu corpo ainda mais. Meu cérebro se transforma em gelo e emite descarga gotejante para todas as vias da massa e da alma, estimulando o meu corpo a chorar.
Por um instante chego a ver-me num insuportável rancor, estresse, ódio ou mesmo um grande tédio. Tenho medo de enlouquecer. Vejo que se permanecer naquele leito, sucumbido naquela estância poderei morrer! Divago pelas ruas da imaginação que mesmo no alvorecer são insuportáveis pelo impiedoso barulho.
O tempo lentamente vai passando... De repente vejo-me embrenhar no meio da floresta fragmentada pela minha fúria, em direção ao rio da ilusão que divide ao meio a cidade ilusória. Ouço hinos dos pássaros, o barulho saudoso das cascatas e sinto o cheiro da natureza. O sol surge irradiante cristalizando as quedas d’água. Toco-as. Como são frias! Dou um mergulho rio adentro. Banho todo o meu corpo com aquele remédio cristalino e percebo a calma, minha alma estar curada naquele momento!
Repouso numa pedra admirando tudo. Comovo-me ao observar as cachoeiras, duma, vejo um semblante em forma de fumaça, sinto o cheiro do seu corpo, sinto a sua presença, vejo você e vou ao seu encontro, mas você some... Incrédulo, movimento as pálpebras procurando uma explicação. Não sei se eu estava adormecido, delirando ou quem sabe tenha sido talvez um pouco de miragem. Dou mais um belo mergulho. Saio novamente, cubro-me com meus frangalhos e sigo rumo à minha fria moradia... No caminho, novamente na cidade da inexistência, percebo-me passando em frente a sua casa, olho disfarçadamente para o interior e te vejo despercebida, sentada linda, linda, numa poltrona branca e macia. Sou golpeado por uma vontade de penetrar ou mesmo te chamar para ouvir-me falar-te do meu amor mais uma vez. Já sei a resposta: “não te quero”. Desisto e continuo. Nesse momento percebo que não tenho rancor, ódio, nem mesmo estresse. O que tenho é solidão e desejo de ser amado por você. Sei que isso é impossível e que no outro alvorecer tudo isso vai acontecer para fazer-me derramar cascata de lágrimas.