O MENINO E O ESPELHO

Jamais concordei com o espelho, a rixa já vai mais longe do que me dou por gente. Ele mostrava um menino, eu via um gigante domando ferozes dragões, não eram vassouras! Ele insistia que era um menino, eu via um príncipe, já sem o cavalo branco, mas a espera da princesa, que ele teimoso também exibia menina. Foi-se o tempo, que um dia deixei o espelho de lado; irritado ele mostrou-me o mundo, como a me dar noção de que o que eu via não era nada, mas eu, eu via um homem. Hoje ao abrir a caixa de pandora da minha infância, entre o ioiô e o mini-game, estava o espelho. Curioso, sem guardar mágoa, assoprei-lhe o pó que os anos depositaram sobre seu refletir e espiei-me. Ah, este espelho que nunca muda! Mostrou-me um velho senhor, alvo, grisalho, com ares de doutor experimentado da vida e eu, pela primeira vez, vi um menino!