O TEMPO NÃO NOS PERTENCE MAIS

Hoje me deparei com uma triste realidade (triste principalmente pra mim que sou saudosista ao extremo) que todos nós sabemos, somos conscientes, mas que fazemos questão de esquecer. O tempo não nos pertence mais. Tempo de fazer escolhas, de realizar projetos, tempo de estar mais perto das pessoas que amamos. O tempo realmente é cruel. Quando nos damos conta ele já passou por nós, levou nossos bons momentos e deixou-nos apenas a saudade de tudo o que vivemos. E como consolo, dizemos pra nós mesmos: nem faz tanto tempo, parece que foi ontem, foi tão depressa... É a tal LEMBRANÇA.

O tempo, como disse certo poeta, "não pára", nem descansa. Esse tempo é "caxias" mesmo. Mas o que fazer ante essa pressa atual do tempo? Sim, porque ele é quem esta com pressa. Ele é quem faz o dia ter apenas 24 horas quando poderia ter quem sabe... 30 horas? Ele que não nos deixa tomar café direito quando "estamos atrasados", que faz com que "envelheçamos antes da hora" e até com que morramos antes do previsto. Sim, porque se dependesse de nós, seríamos sempre jovens e quem sabe até imortais.

Esse tempo é cruel. É carrasco de quem gosta do espelho. E por causa disso vivemos em constante fase de adaptação. Temos que nos adaptar com o nosso rosto que mudou dos doze pra os dezoito. Dos 25 para os 35 (eis um salto que o tempo dá, ele é um verdadeiro atleta), e assim sucessivamente. Sem falar que nem sempre são mudanças agradáveis. Ainda bem que nesse aspecto ele é um pouco lento. Justamente porque precisamos aceitar, por falta de escolha, essas mudanças.

O tempo não nos pertence mais. Quando eu penso em passar àquelas horas gostosas na praia, ou em passar o fim de semana no campo, ou até mesmo me reunir com amigos para conversar, lembro logo que o tempo não me pertence mais. Tenho trabalhos pendentes a entregar ao chefe, por que na sexta-feira “o tempo, não me deu tempo” de terminar. Preciso ir ao supermercado, durante a semana não há tempo pra isso também. E meus amigos? Assim como eu, não têm mais tempo. Somos na verdade, verdadeiros escravos do tempo. E mais, se não corremos atrás dele, vai na frente e não espera ninguém. Quem ficar para trás já era. O que ontem foi novidade hoje já é notícia velha. Por quê? Porque o tempo passou depressa e com ele o interesse por certas coisas.

Interesse pelos familiares, pelos amigos, por tantas coisas boas que deixamos pra trás e que não voltam. Porque o tempo, o tempo não espera ninguém. Se não ele teria esperado eu viver aquele amor que tive e que durou tão pouco (as pessoas dizem por ai que as coisas duram o tempo necessário para serem inesquecíveis. Pode até serem inesquecíveis, mas se durassem mais seria muito melhor), ele teria deixado aquele meu amigo que morreu jovem, viver um pouco mais e tantas outras coisas que o tempo não nos permite. Mas, o tempo não me pertence mais, não adianta fazer planos, sonhar ainda posso (mas sem ele saber), agenda-se tudo agora. Até pra encontrar o marido tem hora marcada. São as ocupações que o tempo trás.

Só vejo uma vantagem no tempo. Com o tempo as coisas ruins também se vão. E pensando naquele amor que tive e que durou pouco por não ser correspondido, chego à conclusão que nisso o tempo estava certo. Aquele amor nem deveria ter começado, mas... O tempo remediou isto. E, como as coisas que passam com o tempo esse amor também passou. Alguém disse: “o tempo é senhor de todas as coisas”. Se de todas as coisas eu não sei. Mas das que passaram e que não voltam mais ele o é.

E eu que já não tenho mais o tempo de outrora, estou aqui tentando enganar o tempo que eu não tenho. Porque o que eu tenho mesmo é um monte de coisas pra fazer e que deixei pra poder falar do Tempo. Agora está tudo atrasado. Mas se não for assim eu não faço nada. Porque o tempo que não me pertence mais não me deixa fazer quase nada que eu gosto. O tempo esta passando e eu estou ficando vou correndo atrás dele antes que eu fique velha e cansada demais para alcançá-lo.

Ah tempo que não me pertence mais...! Se tu pudesses parar de correr eu pararia de querer te alcançar e seria mais fácil reviver as coisas boas da vida que levaste pra longe.

Luciana Cunha