MORRER DE AMOR
Peço perdão a quem só pelo fato de eu existir, assassinei. Devo dizer que também eu morri, muitas e muitas vezes, ainda que não se morra mais de amor como morreram alguns personagens e um e outro poeta românticos do século XIX.
Não se morre, mas, se morre, sim. Mesmo quando não se quer matar, se mata, sim. Mesmo quando não nos querem matar, muitas vezes nos matam, sim. Às vezes, até ressuscitar pode ser um novo suicídio ou mais um crime, também.
Ver os seres de amor perderem a voz... Não se ter mais voz para dizer... Não se ter forças para desaparecer dos cenários... saber que é imperativo do destino, neles cenários, permanecer.
Por que pode ser tudo isso o amor? A quanto vós nos obrigais, a quanto ainda vós nos obrigareis?
Vi morrerem, uma a uma, as esperanças no olhar do meu Amado, por isso vivo, por isso permaneço. Para a tentativa, talvez totalmente vã, de ressuscitá-las, uma por uma, as suas mortas esperanças, de ressuscitar ao menos uma, eu que em mim não mais as tenho, ou a quase mais nenhuma.
Vejo a dor da mulher que me segue os rastros, que me conhece a sombra, e queria ser-lhe invisível, a ela, também a mim, mas, nossa presença obrigatória ofusca, cega, todos os dias, a ambas.
Peço perdão a quem, só por eu existir assassinei, sabendo que tal perdão não conseguirei, jamais.
Peço perdão por estar ainda na tentativa de me ressuscitar, também.
A pior de mim pede perdão. A melhor de mim pede perdão. Nenhuma das duas sabe bem a quem.
Peço, por fim, perdão ao meu espelho, - não a algum meu retrato. Perdão, espelho meu.
Na manhã de 12 de abril de 2011.