A quase morte
O que estimula e motiva a vida é saber de sua efemeridade. Negligenciar a morte que está por vir é já estar morto, pois de que vale a vida se não houver morte?
Ser vivo ao extremo consiste em caminhar para o fim como se começasse a todo momento. Concomitantemente, a morte não teria seu espetáculo se não estivesse aliada à vida.
Assim o ser, medíocre por natureza – morto para viver e vivo para morrer – não de desvencilha de sua rotina, medos, coragem, sonhos e vive a estranheza de uma fotografia após outra e a naturalidade das verdades não ditas.
A quase morte abala as estruturas – tão sólidas – que sol após sol parecem ser eternas e o paradoxal ocorre. Assim há vida! O quase é forte demais para unir extremos vida e morte, para revelar o possível e impossível desse meio termo. O que era paliativo passa a ser decisivo; o que era morno, quente; o neutro, colorido.
A quase morte, indubitavelmente, é a certeza de que se vive e a intensidade que se vive. Assim, a vida passa se configurar como razões para amar, olhar, notar, expressar, ignorar, estar, ficar, revelar o poder e a motivação da criação.