[O Inútil Gozo Instrumental]

[Velhos textos inéditos... - a gente nunca, nunca mesmo devia

pôr data em poesia!]

[A ouvir a triste música de nossos corpos...]

Eu era só um sujeito passado do tempo,

alguém que ficou depois da conta já paga,

depois que o show terminou e os músicos se foram;

e eu não queria nada, nada...

Mas o fim-de-noite nunca é o fim de tudo;

há sempre um resto — como última esperança

de não ficar sozinho a qualquer preço,

o meu desejo cola-se num qualquer objeto...

Aquela mulher exuberante quer o meu corpo,

olho-a, e também quero o seu corpo

— ficamos bêbados ouvindo a mesma música,

e agora, perdemos o medo de explorar continentes...

Mas nessa outra melodia,

fomos instrumentos diferentes:

ela tocou em mim, o outro,

e eu, vibrei nela, a outra;

e do nosso inútil gozo instrumental,

ficou a certeza de que fomos apenas

cavalos dos amores de cada um...

______________________

[Penas do Desterro, 19 de maio de 2005]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 11/04/2011
Reeditado em 10/08/2012
Código do texto: T2902473
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.