[O Inútil Gozo Instrumental]
[Velhos textos inéditos... - a gente nunca, nunca mesmo devia
pôr data em poesia!]
[A ouvir a triste música de nossos corpos...]
Eu era só um sujeito passado do tempo,
alguém que ficou depois da conta já paga,
depois que o show terminou e os músicos se foram;
e eu não queria nada, nada...
Mas o fim-de-noite nunca é o fim de tudo;
há sempre um resto — como última esperança
de não ficar sozinho a qualquer preço,
o meu desejo cola-se num qualquer objeto...
Aquela mulher exuberante quer o meu corpo,
olho-a, e também quero o seu corpo
— ficamos bêbados ouvindo a mesma música,
e agora, perdemos o medo de explorar continentes...
Mas nessa outra melodia,
fomos instrumentos diferentes:
ela tocou em mim, o outro,
e eu, vibrei nela, a outra;
e do nosso inútil gozo instrumental,
ficou a certeza de que fomos apenas
cavalos dos amores de cada um...
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[Penas do Desterro, 19 de maio de 2005]